Arianna Huffington quer pôr-nos a dormir

A criadora do portal de notícias Huffington Post defende, após ter tido um colapso, que toda a gente devia abrandar. No Huffington Post há duas salas de sestas que estão sempre cheias, diz Arianna Huffington, considerada uma das mulheres mais influentes dos media.

Já muita gente o disse, mas ganha outro peso quando é Arianna Huffington, a fundadora do grupo de media Huffington Post, a defendê-lo. ‘Aprendam a abrandar e a parar para cheirar as rosas’ é a nova mensagem desta mulher que a Forbes incluiu em 2009 em 12.º lugar no top das mulheres mais influentes dos media. No seu recente livro Thrive: The Third Metric to Redefine Success and Creating a Life of Well-being, Wisdom, and Wonder, Arianna conta que depois de ter partido o maxilar ao cair esgotada foi obrigada a repensar o que é, afinal, o sucesso.

O livro defende que poder e dinheiro são apenas duas pernas de um tripé que nos sustenta e que, se não conseguirmos garantir uma relação com os outros, experimentar diariamente uma sensação de maravilhamento e sermos capazes de gestos de gratidão e ternura, não estamos de facto a viver. Sem esta terceira perna, mais cedo ou mais tarde caímos. E literalmente.

Por isso defende uma revolução na nossa forma de viver. Uma delas é sermos capazes de desligar a parafernália que nos liga ao mundo exterior e, outra, como defendeu a semana passada num artigo publicado no Guardian, pedir aos patrões que criem salas de sesta.

Diz-se apoiada em estudos científicos recentes, e particularmente num divulgado no Daily Mail de um investigador do cérebro humano, Vincent Walsh, que apelou a uma nova ordem no mundo do trabalho. Basicamente, um mundo em que os patrões deixem os empregados fazer uma sesta durante o expediente e em que sejam os próprios trabalhadores a decidir as horas em que são mais produtivos. Conclusão: «Se queremos pessoas mais criativas devíamos aceitar que elas trabalhem menos», disse o professor em que Arianna se baseia para sustentar a sua tese.

Mas ela não está a falar por falar. Depois de ter vendido o Huffington Post à AOL por 315 milhões de dólares, em 2011, Arianna manteve a presidência do então criado Huffington Post Media Group. Na sede deste site noticioso, e agregador de blogues, que é cada vez mais centrado em temas do quotidiano e menos em notícias políticas, Arianna revelou que há duas «salas de sestas, que estão sempre cheias».

Arianna nasceu em Atenas, em 1950, com o nome de Ariánna Stassinopoulou e quando tinha 16 anos a família mudou-se para o Reino Unido. Formou-se em Economia, em Cambridge. Viveu com o amor da sua vida, Bernard Levin, andando de festival em festival de música, experimentando os restaurantes Michelin de França e escrevendo livros.

Aos 30 anos afastou-se de Levin, mudou-se para os Estados Unidos, criticou o feminismo de Germaine Greer e escreveu biografias de Callas e Picasso. O apelido veio-lhe mais tarde, do casamento, em 1986, com o republicano Michael Huffington e a veia conservadora acentuou-se. Em 2004, começou a alinhar com o Partido Democrata e em 2010 foi uma das apoiantes da campanha do comediante Jon Stewart contra a investida da direita ultra-conservadora protagonizada pelo chamado Tea Party.

Em 2005, com Kenneth Lerer, fundou o portal Huffington Post, eminentemente político. Após a venda à operadora America Online, estima-se que o ‘Huff’, que aposta agora num jornalismo mais próximo do cidadão, atinja 117 milhões de visitas por mês nos EUA.

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