Esses tempos até podem estar distantes para Alexandre Farto, mais conhecido como Vhils, mas é precisamente à cidade que o artista regressa e presta homenagem na exposição Dissecção/ Dissection, aberto ao público desde o dia 5 de Julho, no Museu da Electricidade. A ideia nasceu há mais de um ano quando Vhils foi desafiado para expor pela primeira vez, e individualmente, num museu português. Amplamente elogiado pela crítica internacional, nos últimos anos o mais famoso street artist português tem apresentado o seu trabalho um pouco por todo o mundo. Faltava Portugal.
Vhils não gosta de ver esta exposição como uma retrospectiva, até porque acredita que, aos 27 anos, não tem idade para tal. Encara-a mais como uma mostra das várias vertentes do seu trabalho, sobretudo dos últimos três ou quatro anos. “Até agora não tinha havido oportunidade de ter uma exposição com esta escala e que me permitisse fazer uma reflexão”.
É sobre a cidade e os seus habitantes que Vhils aqui reflecte. “A ideia foi dissecar o espaço urbano e olhar para aquilo que vemos todos os dias de uma maneira diferente”. Procurando respeitar a estrutura do Museu, montou nele um percurso que parte do “caos e da saturação visual” rumo à neutralidade. Por uma espécie de labirinto vão-se descobrindo as obras – na maioria inéditas – de Vhils e, assim, a sua cidade, acabando por desembocar no local onde o próprio artista começou: uma carruagem de comboio.
Este foi um dos maiores desafios da montagem, ou não pesasse a composição cerca de três toneladas, o que obrigou a um enorme estudo de engenharia: primeiro era necessário assegurar que a estrutura do Museu sustentaria o peso, depois foi preciso encontrar uma metalúrgica que 'cortasse às fatias' esta carruagem. Agora, quando se vê ali, imponente, suspensa no ar, imaculadamente branca, nada disto parece ter importância.