As holdings da família Espírito Santo estão em risco de falência e as dúvidas sobre a capacidade de pagarem as dívidas provocaram ontem uma onda de turbulência no sistema financeiro internacional. Um dos principais riscos é que o banco seja afectado pelo incumprimento das empresas e que haja necessidade de reforço dos capitais. Mas o cenário mais drástico pode implicar a venda – parcial ou total – da participação que a família tem no banco, para pagar dívidas.
Os principais problemas estão na Rioforte, que gere os negócios não financeiros da família, e na Espírito Santo International (ESI), a empresa no Luxemburgo onde foram detectadas irregularidades contabilísticas e que se endividou para cobrir as perdas. Há duas semanas, o SOL avançou que a ESI já teria entrado em incumprimento, ao não assegurar o pagamento de títulos de dívida conhecidos como papel comercial. Esta informação veio a confirmar-se oficialmente nos últimos dias. Um grupo de clientes do Banque Privée Espírito Santo, o banco de gestão de fortunas que o Grupo Espírito Santo tem na Suíça, não recebeu o reembolso de investimentos realizados nos títulos da ESI.
Segundo um documento revelado ontem, o banco tem uma exposição de 1,2 mil milhões emprestados ao ESFG e à Rioforte, um valor inferior à almofada de capital de 2,1 mil milhões de euros que ainda tem disponíveis. Contudo, o banco admitiu que não sabe ainda estimar com precisão o impacto de um eventual incumprimento das holdings.
Uma análise de departamento de research do BPI citada hoje pelo Negócios indica que a exposição total – directa e indirecta, através de garantias, por exemplo – do BES ao Grupo Espírito Santo será de 4,5 mil milhões de euros. E um banqueiro disse ao Financial Times que o BES precisaria de um aumento de capital de dois a três mil milhões de euros.
O Grupo Espírito Santo está a desenhar um plano de reestruturação muito aguardado pelos investidores, mas ainda não foram conhecidas medidas concretas. No sistema financeiro, há quem anteveja cenários drásticos para os interesses da família. Um deles é a constituição de uma provisão no BES para fazer face à dívida emitida pela ESI, já que o papel comercial da empresa foi colocado à venda nos balcões do BES.
Já existe uma provisão para acautelar estes pagamentos, mas foi feita no ESFG e não no BES, pelo que este cenário abre também a possibilidade de um aumento de capital. O risco mais extremo seria a venda parcial ou total dos 25,1% que o ESFG tem no BES. O encaixe serviria para fazer face aos compromissos financeiros assumidos pela holding, com a família a reduzir o seu negócio central.