Perdeu agora o único voo comercial (semanal…) que ainda ali operava. Está vazio, sem que haja culpa formada para quem o promoveu e aprovou, descuidando os mais elementares estudos prévios de viabilidade económica.
O aeroporto nasceu da cumplicidade de José Sócrates com os autarcas locais, anunciado no acto inaugural, pelo então ministro António Mendonça, com «um impacto muito positivo na economia da região». Para este visionário, iria «ser importante para o aproveitamento das potencialidades turísticas». Viu-se.
O ‘pico do movimento’ deu-se, recentemente, quando serviu de estacionamento para aeronaves vindas com adeptos espanhois para a final da Liga dos Campeões.
Por estranho que pareça – e descontada uma auditoria inquieta do Tribunal de Contas, ainda com a obra não concluída – ninguém se incomodou em apurar responsabilidades, perante tamanho desperdício de dinheiros públicos.
O Aeroporto de Beja lembra um episódio da celebrada série inglesa de humor Yes, Prime Minister, no qual este inquiria o director do moderno hospital recém inaugurado, com todas as valências, sobre o facto de estar deserto de doentes…
A ficção instalou-se na nossa realidade. E, para alimentar a ficção, tal como na série inglesa, o actual Governo criou, em Junho de 2012, um grupo de trabalho para rever cada um dos pressupostos em que se baseou o projecto e encontrar forma de o rentabilizar.
O diagnóstico dos peritos seguiu o roteiro habitual para desobrigação das partes. E – presume-se –, foi metido piedosamente na gaveta.
Inaugurado em 2011, o Aeroporto de Beja está às moscas, e os responsáveis por este esbanjamento estão a bom recato.
Vale a pena, contudo, reler um artigo épico, publicado em Maio de 2007 no Avante!, a propósito do arranque do projecto, «uma antiga exigência do PCP».
Assinado por um membro da Comissão Política comunista, proclama-se no texto que o PCP «saúda o desbloqueamento das obras do aeroporto de Beja e considera o avanço deste projecto, sem mais demoras, com todas as suas valências, uma importante vitória da luta do povo alentejano contra o ‘fatalismo’ do crónico atraso, da quebra demográfica e do envelhecimento populacional(…)».
A citação mais longa é irresistível, perante o descalabro da infraestrutura.
De concreto, porém, o PCP e o PS de Sócrates, que estiveram de braço dado, não pagam a inutilidade do investimento, nem os prejuízos da exploração do desejado aeroporto. Esta aliança de esquerda deu no que deu.
Primeiro, vocacionado para o turismo alentejano; depois, para carga aérea, low cost, manutenção e até parqueamento. As várias hipóteses têm desabado sem remédio.
Perante o desastre, e como é da praxe, tanto o PCP como Sócrates – ou os (dantes) entusiasmados autarcas – não aparecem a reinvidicar a «vitória do povo alentejano». Todos calados, como é de bom tom. E assim vamos.