Com o pseudónimo Duquesa, o mesmo nome com que titula o álbum, o músico deixou-se contaminar pelo “feeling dos clássicos” como, entre outros, os Beatles. O resultado é uma música pop imaculada – com “pianadas à (Paul) McCartney” e “ambientes celestiais” -, aparentemente despreocupada, mas cheia de pormenores estéticos.
A seu favor, este duque (que preferiu chamar-se Duquesa porque gosta de intrigas palacianas e acredita que o seu ar andrógino casa bem com o feminino) tem a inocência e as fantasias dos seus 23 anos de idade, mas o compromisso de soar verdadeiro. As canções falam, por isso, de temas mundanos no dia-a-dia de qualquer jovem, como namorar, passear e comer gelados deitado na relva durante o Verão.
“Tenho uma experiência de vida relativamente limitada para me aventurar, mas isso não significa que a minha música não seja filosófica. Apesar de simples, acaba por ser um epicurismo. Uma maneira de viver moderada em que o objectivo final é o prazer e a felicidade”, diz ao SOL. Ao longo dos seis temas do registo é isso mesmo que se ouve: pop luminosa e intemporal, com um sentido de grandeza certeiro como, aliás, qualquer clássico. Ao fim de poucas audições, o refrão de 'Douchebag', 'True' e 'Ice Cream' já se colou ao ouvido e reclama ser trauteado durante todo o Verão.
Mais pessoal do que qualquer trabalho com os Glockenwise, Nuno achou interessante falar de coisas só dele, “mas que podem ser de qualquer um”. O cunho biográfico não se resume à escrita das letras – um processo bastante difícil para o músico -, estendendo-se igualmente às melodias e à decisão de gravar de modo analógico, com o mínimo de músicos em estúdio. “Duquesa é mais catártico, Glockenwise é mais sério. Por isso, quis estar sozinho em estúdio e ter um produto o mais genuíno possível, que contivesse o máximo de mim”, conta, explicando que a bateria entrou logo em estúdio por questões de ritmo, mas o baixo e as guitarras foram gravados separadamente. “Foi um processo bastante autocrático. Mas gosto dessa responsabilidade de estar em estúdio e tudo depender de mim, algo que não acontece com os Glockenwise porque, como somos quatro, têm de estar todos reflectidos na música”.
Em Lisboa e Barcelos
Tocar ao vivo sozinho é que já não é assim tão fácil, com o músico a ficar tenso logo no dia anterior. “Já dei mais de 400 concertos, mas todos os que toco é como se fosse o primeiro. No dia anterior quase não durmo”, diz. As próximas oportunidades para ver se está a exagerar ou se fica mesmo nervoso são hoje, no Taina Fest, no Grupo Os Amigos do Minho, em Lisboa, e no dia 27, no festival Milhões de Festa, em Barcelos, onde também actua com os Glockenwise.
Além do quarteto, o Milhões de Festa – que decorre entre os dias 24 e 27 – recebe mais de 60 bandas, entre eles, Earthless, High on Fire, Night Beats, Chelsea Wolfe e Boogarins.