Violette Leduc nasceu em 1907, filha de uma empregada doméstica e de um distinto incógnito, e morreu em 1972, de cancro da mama. A partir dos 35 anos, incentivada por Simone de Beauvoir (que a dá a publicar a Albert Camus, na Gallimard) e por Jean Genet, expôs a sua vida em 11 obras-primas confessionais, como L'Asphyxie, L'affamée, Ravages, A Bastarda (Portugália, 1966), Teresa e Isabel (Relógio d'Água, 1985) ou A Caça ao Amor (Portugália, 1974).
O seu génio criativo, alimentado em doses iguais pelo fracasso e pela audácia e só tardiamente reconhecido, testemunha uma via-sacra biográfica, exposta com uma coerência ficcional impressionante: a infância de bastarda, a pobreza, a nostalgia de uma educação burguesa, a fealdade, a prática de contrabando, o aborto (aos cinco meses e meio de gravidez), a libido complexa, a impossibilidade de ser amada (por homossexuais célebres: Maurice Sachs, Jean Genet e Jacques Guérin), a relação sadomasoquista com Simone de Beauvoir, o assédio obsessivo, a intempestividade, a depressão e a neurose profundas, o desajuste extremo com o mundo.
“Na minha vida, só existe demolição”. Violette, símbolo de tantas marginalidades, assume-se como algoz e vítima de si mesma. A sua fúria solitária revela-se numa escrita auto-ficcional, violenta, sexual, que testa nos limites da língua os limites do que se pode sentir ou sofrer. Lírica e, ao mesmo tempo, desvairada. Em exposição absoluta de si mesma, a mulher feia renasce pela beleza da nudez, da coragem e da palavra. Salva pela escrita? Pelo menos, purgada.
Violette Leduc foi uma voz muito importante na afirmação dos direitos da mulher. Uma libertária, barroca entre existencialistas, cuja obra urge ser (re)editada em português.