O último inquérito do Instituto Nacional de Estatística mostrou que os empresários portugueses estão mais optimistas sobre a evolução do investimento (que caiu brutalmente no últimos anos), mas ao mesmo tempo são cada vez menos as empresas a investir ou a projectar investir. O paradoxo, diz o INE, deve-se a que as grandes empresas investem, mas as outras não.
Entretanto, continua a diminuir o crédito para investimentos empresariais. Também por falta de confiança dos bancos na capacidade das empresas em pagar. Pois se o crédito malparado a empresas não pára de subir…
Num outro, mas decisivo plano, multiplicam-se as propostas de reestruturação da nossa dívida soberana, levantando dúvidas nos investidores sobre se emprestar ao Estado português se revelará um negócio ruinoso. Não surpreende que várias dessas propostas venham de quem gostaria de rebentar com a economia de mercado em Portugal. Menos normal é que alguns não colectivistas se associem a tais manifestações de irresponsabilidade.
Valha-nos uma declaração de António Costa, que o director do Diário de Notícias foi dos poucos a salientar: «Portugal deve cumprir escrupulosamente as suas obrigações e compromissos». Uma posição responsável de quem é visto como provável futuro primeiro-ministro. Oxalá a mantenha.
Há um ano o grande golpe na confiança dos mercados foi dado pela crise política na coligação PSD-CDS. Agora, foi a crise no Grupo Espírito Santo (GES) que contribuiu para subir os juros da nossa dívida pública. A falta de transparência das empresas do GES tem sido um factor de desconfiança, que atingiu o próprio BES, apesar das medidas de isolamento tomadas pelo Banco de Portugal.
Os esclarecimentos da anterior administração do BES sobre a sua exposição a dívidas do GES tardaram cerca de 12 horas depois da suspensão das suas acções na bolsa pela CMVM (surgiram perto da meia-noite de quinta-feira da semana passada), o que não ajudou a tranquilizar os mercados. E referiam um valor dessa exposição 850 milhões de euros superior ao valor até aí conhecido, como salientou o BPI. O qual também notou falta de informação sobre provisões para fazer face a esta exposição, bem como a escassa visibilidade da situação do banco angolano.
Parece que a almofada de capital do BES chegará para acomodar as eventuais perdas do BES com o GES. Mas uma explicação completa e credível teria travado um colapso da confiança no BES e também em Portugal, registado em quase todo o mundo. Foi preciso acelerar de forma inédita a entrada dos novos administradores do BES.
A empresa mais afectada pela situação de falência técnica de boa parte do GES terá sido a PT. Mas por culpa própria, pois H. Granadeiro emprestou à Rioforte, uma holding do GES, 900 milhões de euros da PT a curto prazo, chocando os brasileiros seus parceiros da Oi. A ligação de Granadeiro a Ricardo Salgado arrasou o prestígio daquela que foi uma grande empresa nacional. É a confiança, estúpido!