Catedral. A primeira nota é sobre a Catedral de Cantuária, que visito pela segunda vez. É uma das referências da Cristandade – durante séculos um ponto indispensável de peregrinação e cujos antecedentes remontam a Santo Agostinho nos primórdios do século VII. Habituado à sumptuosidade, por vezes de uma ostentação quase ofensiva, de muitas basílicas romanas (maxime a de São Pedro em Roma), não consigo deixar de ser sensível à espiritualidade que transpira daqueles claustros góticos, profundos e austeros, com arcos ogivais que parecem arranhar os céus.
E depois, claro, o sentir-me um pouco personagem do romance (e da série) Os Pilares da Terra de Kennedy Follet, que retrata a época de conflitos entre a Igreja e a nobreza que culminou no martírio Thomas Becket, por homens de Henrique II da Inglaterra, num recanto da própria Catedral.
Brasil. António Prata nota na sua coluna da Folha de São Paulo, a propósito do descalabro da selecção brasileira de futebol, que durante muito tempo os brasileiros sentiram-se como um simulacro de país com uma selecção deslumbrante; agora, a moderação das reacções populares ao descalabro (sobretudo quando comparadas com as de 1950) indicia que os brasileiros acham que hoje o seu país é melhor do que a selecção. Oxalá!
Final do Mundial. Assisti ao jogo na BBC One. Duas notas. Os locutores em Portugal bem poderiam vir aprender como se faz um relato de um jogo televisionado, onde a parcimónia das palavras deve imperar. A frase da noite, que se perde na tradução, foi «die Mannschaft», contra «the man». A equipa ganhou.
BES. Quando vos escrevo, o BES acabou de comunicar ao mercado a cooptação de Vítor Bento, José Honório e João Moreira Rato para os cargos de presidente, vice-presidente da comissão executiva e administrador financeiro. Tenho dos três a melhor das opiniões. Desejo-lhes muito boa sorte. Mas desenganem-se os que pensam que o Estado (ou seja, o contribuinte) não será chamado a salvar o banco, se for este o caso. A decisão nem estará exclusivamente nas mãos nacionais, pois o BES está no âmbito da supervisão do BCE. As recentes observações da chanceler Merkell sobre o impacto global da crise num ‘banco português’ não deixam dúvidas a este respeito. Os downgrades indicam que é isso que os mercados antecipam. O difícil será separar o banco (que deve ser apoiado), do grupo e da família.