Alterações climáticas: nem as rolhas escapam

Um estudo de uma equipa da Universidade de Lisboa, recentemente publicado no Journal of Experimental Botany, alerta para a perda da qualidade da cortiça com as alterações extremas de temperatura. Os primeiros a sentir o perigo da novidade são os produtores de vinho, cujas condições de produção dependem do rigor de inúmeros factores, entre os…

O estudo analisou a qualidade da ‘casca’ dos sobreiros – a árvore de onde se extrai a cortiça para as rolhas, abundante no Sul da Europa, Portugal incluído, e no Norte de África – e a sua composição genética, comparando exemplares de alta qualidade com outros de qualidade inferior. 

O problema é que essa ‘casca’, que protege os sobreiros, tem diminuído de espessura nos últimos anos. Pode parecer um preciosismo, mas nenhum detalhe é de somenos na indústria vinícola. É que, de acordo com os produtores, é preciso que ela tenha pelo menos 27 mm, mas grande parte das árvores apresenta-as agora com uma espessura que varia entre os 3 e os 10mm. 

Os investigadores chegaram à conclusão de que estas mudanças são visíveis num tipo de proteínas fundamental na ‘gestão’ do calor absorvido pelos sobreiros, protegendo-os de secas ou de temperaturas muito elevadas. Ora, logicamente, as árvores de onde se extrai cortiça de pior qualidade têm uma menor quantidade dessas proteínas, mas compensam esse défice com compostos fenólicos que ajudam a proteger a árvore dos raios ultravioletas. O estudo demonstra que estes sobreiros estão a adaptar-se para se proteger do aumento de intensidade dos raios solares e da subida das temperaturas médias.

A investigação pode servir, no futuro, para escolher as melhores variedades de cortiça e cruzá-las para obter sobreiros mais robustos e com melhores hipóteses de defesa contra o clima.

ricardo.nabais@sol.pt