"Penso que haverá mais informação relevante para além desta que está actualmente no mercado", afirmou o líder do supervisor no Parlamento, no âmbito da sua audição especial sobre a situação no Grupo Espírito Santo (GES), do qual o Banco Espírito Santo (BES) é o principal activo.
Segundo Carlos Tavares, a divulgação dos resultados do primeiro semestre do BES, mais a publicação do trabalho dos auditores do banco, devem 'trazer a lume' essa informação relevante a que se referiu.
"Os investidores deverão ler toda a informação que seja relevante e trata-la da melhor forma que entenderem", sublinhou, considerando que "o melhor conselho que se pode dar aos investidores é para que confiem na informação oficial".
O BES adiou a apresentação das suas contas semestrais, que estava inicialmente agendada para esta sexta-feira, para o dia 30 de Julho.
CMVM sofreu "pressões" para acelerar aprovação do prospecto do aumento de capital
Carlos Tavares revelou hoje no Parlamento que o supervisor sofreu "as maiores pressões" por parte dos assessores financeiros para acelerar a aprovação do prospecto do aumento de capital do BES.
"A CMVM teve as maiores pressões, nomeadamente, por parte dos assessores que trabalharam na operação, para aprovar o prospecto o mais rápido possível", adiantou o responsável numa comissão parlamentar dedicada à situação no Grupo Espírito Santo.
"Foi-nos dito que, caso contrário, haveria centenas de milhares ou mesmo milhões de euros de prejuízo", sublinhou, assegurando que "a CMVM não aceitou as pressões".
Daí, o prospecto do aumento de capital do BES, cuja publicação foi considerada um "momento crítico" pelo líder do supervisor, ter sido "publicado mais tarde do que era suposto", contando com 35 páginas dedicadas à enumeração dos riscos associados às várias entidades do GES a que o banco então liderado por Ricardo Salgado está exposto.
"Pela primeira vez constava informação sobre os accionistas do banco", assinalou Carlos Tavares, explicando que o supervisor considerou que "aquilo que fosse importante e grave para um accionista do banco, era importante para o próprio banco e para o preço das suas acções".
O presidente da CMVM disse que este pode ser considerado um "caso de escola", já que, apesar de os inúmeros riscos relacionados com o investimento nas acções disponíveis no âmbito do aumento de capital estarem elencados, "apesar disso, a operação foi subscrita na totalidade".
"A CMVM só tem que aprovar um prospecto. Não pode impedir um aumento de capital deliberado pelos accionistas", realçou, acrescentando que o supervisor só pode "obrigar a publicar tudo" o que sabe "que existe" sobre a entidade em causa.
Os vários riscos enumerados no prospecto do aumento de capital do BES foram identificados "muito graças" à colaboração da CMVM com a sua congénere luxemburguesa, sublinhou.
O Espírito Santo Financial Group (ESFG), o principal accionista do BES com 20,1%, tem sede no Luxemburgo, país onde está cotado na praça accionista, a par do mercado português, mas "o mercado mais líquido da acção ESFG é em Lisboa", disse.
"Daí sermos nós os responsáveis pela comunicação ao mercado", justificou.
"Para além da informação que está no prospecto, poucos dias depois, foi publicado um comunicado do ESFG, antes do período de irrevogabilidade das ordens. Foi um momento importante", considerou Carlos Tavares.