Esta eficácia tem a ver com o grafismo utilizado e com as escolhas editoriais.
Deve dizer-se que o bom grafismo não é o grafismo ‘bonito’ – é o grafismo que agarra o leitor e o leva a ler as notícias.
E o CM tem um grafismo que consegue estes objectivos.
Quanto aos critérios editoriais, o jornal assenta em três pilares: desgraças, inveja e egoísmo. A aposta nas desgraças leva-o a publicar diariamente muitas páginas sobre acidentes, assaltos, assassínios, etc. Acontecimentos como a tragédia do Meco ou a morte do filho de Judite Sousa são explorados à saciedade, como autênticas minas de ouro.
A exploração da inveja é feita através de manchetes do tipo: Banco de Portugal escapa aos cortes ou Fulano de tal recebe reforma milionária. Denunciando os privilégios de certas pessoas ou grupos, o jornal despoleta nos leitores reacções invejosas – o que é jornalisticamente muito atractivo.
A estimulação do egoísmo é feita com títulos do género: Maria Luís recusa baixar IRS, ou Governo quer facilitar despedimentos, ou ainda Ministro corta nos hospitais e põe doentes em risco.
Nestes casos, o jornal não quer saber se a redução do IRS é financeiramente possível, ou se são necessárias leis laborais mais flexíveis para tornar a economia mais competitiva, ou se é imperioso cortar nas despesas hospitalares para o sistema ser sustentável.
O jornal não quer saber destas coisas: quer apenas ir ao encontro dos anseios dos contribuintes, fustigados por impostos altos; ou da revolta dos trabalhadores, ameaçados por despedimentos mais fáceis; ou da ira dos doentes, prejudicados pelos cortes nos hospitais.
Por isso, o Correio da Manhã é o jornal português que vende mais e o menos atingido pelas quebras que a imprensa tem vindo a sofrer.
Ele não tem pruridos estéticos, nem éticos, nem ideológicos: fala com eficácia daquilo que interessa às pessoas e diz-lhes aquilo que elas querem ouvir.
Mas, se isto é uma característica do jornalismo tabloide em todo o mundo, é muito mais grave quando são os políticos a fazê-lo.
António Costa, candidato à liderança do PS, dizia um dia destes que tem na manga «uma 3.ª via», com a qual se evitarão os cortes na despesa ou os aumentos de impostos. E qual é essa via milagrosa? É o crescimento da economia, que fará subir as receitas do Estado, com o aumento da massa a tributar. E como se porá a economia a crescer?
António Costa não o diz, mas sabemos que há dois caminhos teoricamente possíveis: um é aumentando o investimento público, o outro é diminuindo os impostos para estimular o investimento privado.
A via do aumento do investimento público já foi explorada por José Sócrates sem êxito. Sócrates defendia o endividamento do Estado para investir em obras públicas, e o resultado foi o que se viu: a dívida aumentou brutalmente mas a economia só cresceu a uma média de 0,5% ao ano.
Fica a hipótese de diminuir os impostos, de modo a tornar o investimento privado nacional e estrangeiro mais atraente, como fizeram recentemente os espanhóis. Mas para os impostos baixarem é necessário reduzir primeiro a despesa pública. Doutro modo será um risco tremendo, pois o crescimento da economia é sempre uma incógnita.
Baixar os impostos às cegas, sem certezas nenhumas, poderá levar de novo à subida do défice, com todas as consequências daí decorrentes: perda de credibilidade externa, desconfiança dos mercados, subida dos juros, etc.
Arriscávamo-nos a perder em meses o que recuperámos com tantos sacrifícios em três anos.
Portanto, voltamos ao mesmo: enquanto não fizermos cortes na despesa pública, estaremos atados de pés e mãos.
António Costa não sabe isto? António José Seguro, que advoga mais ou menos a mesma ‘receita’, não sabe isto?
Claro que sabem. Sabem de ginjeira.
Portanto, quando fingem desconhecer, estão a enganar deliberadamente os eleitores. Quando dizem que há uma 3.ª via que dispensa os cortes, estão a fazer publicidade enganosa. Que o Correio da Manhã diga o que as pessoas querem ouvir para ganhar leitores, está no seu papel – é um jornal tabloide.
Que, num momento de crise, Costa e Seguro explorem a credulidade das pessoas e as suas dificuldades para ganharem votos, é muitíssimo condenável.