GES

Onde quer que vá – televisão, trabalho ou café do bairro –, o destino do Grupo Espírito Santo (GES) é objecto de debate, perguntas e comentários. Todos falam, todos querem saber mas, na realidade (e como é natural face à complexidade do problema), a informação nova escasseia. Neste momento em que tudo está sobre a…

O GES fez muito de bem pelo país: criou e manteve muitos empregos, financiou e desenvolveu muitos projectos, apoiou muitas iniciativas de responsabilidade social e foi um genuíno centro de decisão nacional. Como responsável de uma instituição de ensino que tem que recorrer regularmente a patrocínios privados, sentirei a paisagem ainda mais deserta, sem aquelas instituições de referência que sentiam como sua responsabilidade apoiar iniciativas de interesse nacional.

Penso ser justo lembrar tudo isto – agora, num momento em que todas as críticas são fáceis -, sem embargo da condenação veemente das eventuais práticas ilegais ou mesmo criminosas de abuso de confiança que virão a trazer danos vultuosas a muitas famílias.

Por outro lado, o GES representa o epítome do ‘crony capitalism’ (capitalismo clientelar) em Portugal: do casamento do Estado com os interesses especiais privado, em que o sucesso nos negócios depende de uma complexa teia de relações (formais e informais) entre empresários privados, públicos e o governo ou seus agentes. O capitalismo clientelar e  o capitalismo genuíno são, se não opostos, pelo menos fundamentalmente distintos: um defende e protege o que está instalado o segundo privilegia a concorrência, a iniciativa e o desafio.

Na expressão de Acemoglu e Robinson, o capitalismo clientelar corporiza instituições ‘extractivas’ (por oposição a ‘inclusivas’), que representam sempre um poderoso obstáculo à destruição criadora que é o motor do progresso económico e social. Por isto muitos dizem que o desmoronamento do GES representa uma reforma estrutural mais importante do que todas as promovidas pela troika.