Van Kirk tinha apenas 24 anos quando participou na histórica missão do Enola Gay, um B-29 da força aérea norte-americana.
O bombardeamento nuclear de 6 de Agosto de 1945 fez 140.000 vítimas mortais – metade numa fracção de segundo, as restantes ao longo dos dias, semanas e meses seguintes devido a queimaduras graves, lesões provocadas pela radiação e ferimentos causados por estilhaços.
Em conjunto com o bombardeamento de Nagasaqui três dias depois, a acção, hoje muito questionada do ponto de vista ético, foi na altura considerada instrumental para a vitória dos Aliados na frente pacífica da Segunda Guerra Mundial. O Japão rendeu-se a 15 de Agosto e o conflito terminou a 2 de Setembro, com a assinatura dos documentos que oficializaram a capitulação dos nipónicos.
O que aconteceu à restante tripulação?
Para além de Van Kirk, onze outros homens seguiam a bordo do Enola Gay a 6 de Agosto de 1945. Nenhum expressou remorsos pelo grande número de vítimas civis da missão, mas Van Kirk declarou em 2005 que gostaria de ver banido o armamento nuclear. “Mas se alguém tiver uma bomba atómica, eu quero sempre ter mais uma que o meu inimigo”, disse em entrevista à Associated Press.
Paul Tibbets, o comandante, disse em 1975 ao Columbus Dispatch que nunca perdeu o sono a pensar nos efeitos e nas vítimas da missão. Trinta anos mais tarde, explicou-se melhor: “Sabíamos que íamos matar pessoas a torto e a direito. Mas o meu único objectivo foi o de fazer o meu trabalho o melhor possível para que a matança pudesse terminar o mais rapidamente possível”.
Depois de passar à reserva, Tibbets tornou-se um empresário da aviação civil, mas não se afastou da polémica. Em 1976, participou numa reconstituição do ataque a Hiroshima no Texas, o que levou os EUA a apresentarem um pedido oficial de desculpas ao Japão. Em 1995, declarou-se “insultado” por uma exposição do museu Smithsonian que, segundo Tibbets, dava demasiada atenção aos efeitos do bombardeamento.
O piloto do Enola Gay morreu em 2007, aos 92 anos. Um dos seus netos, Paul Tibbets IV, é o actual responsável máximo pelo arsenal balístico norte-americano.
Jacob Beser, operador de radar do Enola Gay e o único membro da tripulação a participar igualmente na missão de Nagasaqui, também nunca mostrou qualquer arrependimento pelas suas acções.
“Não sinto qualquer pesar ou remorso. Essa ideia é de loucos. Lembro-me muito bem de Pearl Harbor e de todas as atrocidades japonesas. Lembro-me de quanto isso chocou a nossa nação. Não quero nem ouvir qualquer conversa sobre moralidade. A guerra é inerentemente imoral. Por acaso fica mais morto com uma bomba atómica do que com uma bomba convencional?”, afirma no livro Hiroshima and Nagasaki Revisited.
William Sterling Parsons, responsável pelo armamento a bordo do avião, que também esteve envolvido no projecto Manhattan, continuou ligado ao desenvolvimento de armas atómicas. Morreu em 1953, vítima de ataque cardíaco, depois de se ter sentido mal ao saber do afastamento de um colega perseguido pelo Macarthismo.
Morris Jeppson, assistente de Parsons, recusou falar publicamente de Hiroxima durante 40 anos por receio de represálias contra a sua família. Quando o fez finalmente, e tal como Robert Lewis, Thomas Ferebee, Bob Caron, Wyatt Duzenbury, Joe Stiborik, Robert Shumard e Richard Nelson, Jeppson também não expressou qualquer arrependimento pelo seu papel na missão.