Luís Vieira disse à Agência Lusa que cerca de metade destes "pequenos investidores" compraram papel comercial de empresas do Grupo Espírito Santo (GES), como a Espírito Santo International (ESI), a Espírito Santo Financial Group (ESFG) ou a Rioforte, desconhecendo o tipo de produto em que estavam a aplicar as suas poupanças e não conseguem ser reembolsados.
"A informação que temos tanto do Luxemburgo, como do próprio banco, é que estes produtos não são do BES e que são papel comercial da ESI, ESFG ou Rioforte", afirmou.
A ABES-D foi constituída na semana passada e apresentada oficialmente na quinta-feira depois de um grupo de clientes do BES ter começado a contactar entre si e a perceber que estavam a ser afectados pelos mesmos problemas, nomeadamente a falta de pagamento, desde Junho, do papel comercial que detinham de empresas do grupo GES/BES.
Segundo Luís Vieira, que também é cliente do BES, o endereço de correio electrónico criado pela associação já recebeu mais de mil emails de pessoas que procuram ajuda ou esclarecimentos, muitos deles por "não conseguirem resgatar fundos" ou mobilizar as suas aplicações e não conseguirem obter respostas.
Ainda segundo o responsável, muitos destes produtos foram vendidos a clientes do BES, em Portugal e no estrangeiro, como aplicações de baixo risco e de capital garantido, mas correspondem na realidade a produtos de outras empresas do GES que "estão em pré-falência" e que se vieram a revelar-se "tóxicos".
A ESI, a 'holding' de topo do GES, que detém 100% da Rioforte que controla participações financeiras e não financeiras em várias áreas, a Rioforte e a ESFG, a 'holding' financeira do GES, estão sob gestão controlada no Luxemburgo, depois de terem solicitado este regime de protecção de credores aos tribunais daquele país.
A ABES-D já contratou um escritório de advogados para defender os seus interesses (a sociedade Macedo Vitorino & Associados) que "tem estado a recolher os dossiês e a fazer um apanhado dos produtos" em causa e admite vir a avançar com processos ou outro tipo de medidas contra o banco.
Os problemas do BES avolumaram-se esta semana depois da divulgação de prejuízos recorde de 3,6 mil milhões de euros no primeiro semestre.
O novo presidente executivo do BES, Vítor Bento, anunciou logo após a divulgação dos resultados semestrais do banco que a instituição vai avançar imediatamente com um aumento de capital.
O Banco de Portugal disse que factos recentemente descobertos no BES apontam para a "prática de actos de gestão gravemente prejudiciais" e admite consequências contra-ordenacionais e até criminais para a ex-equipa de gestão liderada por Ricardo Salgado. No entanto, o banco central assegurou que o BES tem condições para manter a sua actividade e garante a "plena protecção dos interesses dos depositantes".
Lusa/SOL