Quem quer um novo BPN?

Quando as coisas no BPN começaram a complicar-se, Oliveira Costa foi afastado da liderança e os accionistas de referência convidaram uma figura exterior ao banco, Miguel Cadilhe, para assumir a presidência.

Depois de ver satisfeitas as condições leoninas que impôs (relacionadas com uma reforma dourada que iria perder), Cadilhe aceitou o convite.  

O grupo BPN era constituído pela Sociedade Lusa de Negócios (SLN) e pelo banco propriamente dito – que foram separados para evitar a contaminação.

Depois de empossado, Cadilhe não demorou muito tempo a apresentar um plano de salvação para o BPN.
Porém, o Banco de Portugal, liderado por Vítor Constâncio, não o aceitou.
Cadilhe fez então um segundo plano, que o banco central voltou a rejeitar.

Na sequência disto, o Governo anunciou a nacionalização do BPN pela voz do então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos – que fez questão de esclarecer que a decisão tinha o aval de Constâncio.

Seis anos depois, a história repete-se – embora com um final (provisório) diferente.
Quando as coisas no Grupo Espírito Santo (GES) começaram a complicar-se, promoveu-se a separação entre o grupo e o banco; e, após várias peripécias, os accionistas convidaram uma figura exterior à instituição, Vítor Bento, para presidir ao BES.

Ponha-se Ricardo Salgado no lugar de Oliveira Costa (salvaguardadas as devidas diferenças de origem social e de estatuto), ponha-se o GES no lugar da SLN e o BES no lugar do BPN, ponha-se Vítor Bento no lugar de Miguel Cadilhe – e a história ficará quase igual. 

A diferença é que, enquanto o Banco de Portugal não aceitou a solução proposta pelos accionistas do BPN, no caso do BES a solução foi aceite.

Poderá dizer-se que  isso se deveu ao facto de a ‘escolha’ de Vítor Bento não ter pertencido  aos accionistas mas sim ao banco central; a verdade, porém, é que os accionistas a aceitaram e subscreveram como sua.

Entretanto, algumas forças políticas que ao longo dos últimos anos criticaram a nacionalização do BPN, pelos rios de dinheiro que tem custado aos contribuintes, criticam agora o Governo por não intervir no BES.
Afinal, em que ficamos?

O Governo deveria ter já tomado alguma iniciativa em relação ao BES, à semelhança do que fez com o BPN?
E, caso as coisas dessem para o torto, como seria?
Voltariam os contribuintes a arcar com o prejuízo?
É isso que se pretende?

Quem sugere uma intervenção do Governo no BES parte do princípio de que ela seria indubitavelmente bem sucedida. 
Ora, a memória é curta. 
Quando se deu a nacionalização do BPN, praticamente não se ouviram vozes discordantes – porque se dava como certo que a nacionalização salvaria o banco. 
O chapéu de chuva do Estado seria suficiente para dar garantias aos mercados, aos credores e aos depositantes. 
Mas todos se enganaram: a nacionalização não evitou a derrocada. 
Tendo em conta esta história, como se percebe que haja agora tanta gente a defender a intervenção estatal no BES?

«Àprimeira cai qualquer», lá diz o ditado; mas acrescenta: «À segunda cai quem quer».
O BPN foi uma lição que não deve ser esquecida. 
E da qual resulta que o Estado só deverá ajudar o BES se, quando e nos precisos termos em que a administração do banco o solicitar.
Em primeira linha, a solução dos problemas do BES compete aos seus accionistas. 
É para isso que existe iniciativa privada.
Se houvesse a certeza absoluta de que uma intervenção estatal resolveria todas as dificuldades, ainda poderia levantar-se a dúvida.
Mas, infelizmente, nem essa certeza existe.