O barulho da falta de glamour nacional

Portugal, talvez por ter entrado no negócio do ‘glamour’ com a prata da casa mais mediana, fá-lo com uma arrogância, que atropela os direitos elementares de quem quer descansar, sobretudo em férias, e sobretudo os que por falta de meios têm menos possibilidades de fazer frente aos abusos que sofrem.

Tornou-se típico da nossa ‘lowest’ classe média que se supõe glamorosa arrastar a sua inutilidade pouco estética em noites longas, alcoolizadas e barulhentas, que muito afectam quem nelas não participa. E parece que os poderes autárquicos se convenceram de que esse tipo de barulhos festivos de classe média-baixa são muito úteis às suas autarquias, que se sentem assim modernas (nem pensam que os países ricos e com classes sofisticadas recusam esta espécie de modernidade), e com acesso aos meios de comunicação (em geral dominados pelo mesmo género de baixa classe média).

Um tribunal advertiu os responsáveis do MEO Spot, ligados à TVI, na Praia da Rocha, Portimão, para se coibirem de fazer barulho, dando razão a um particular queixoso, que não consegue descansar.

Pois a reacção da TVI, em vez de ser a de arcar a decisão judicial (e sabemos como são raras as decisões judiciais justas em Portugal), foi a de garantir que mantém todos os planos para fazer ali a sua festa de Verão, com o barulho que isso implica, e a marcha das tristes caras conhecidas da estação. Não haverá ninguém capaz de moralizar e europeizar Portugal, quanto ao barulho nocturno das suas classes médias mais alcoolizadas e inúteis? E de formar melhor (educá-los mais) os autarcas nesse sentido?