Os mercados de Lisboa ao rubro

As opiniões dividem-se: uns, entusiastas, rendem-se ao modelo, tornam-no um sucesso (se a moda não for passageira); outros lamentam uma espécie de ‘pontapé’ na nossa identidade própria, a copiar os sucessos de fora.

Enfim, é a sociedade globalizada a funcionar. Mas temos de convir que os velhos mercados, antes da reorganização agora feita, já imitavam congéneres espalhados por esse mundo.

De resto, a ligação entre estes espaços e os restaurantes é já antiga em Lisboa. Vejamos só estes poucos exemplos: Carlos Braz Lopes, antes de se celebrizar com o seu bolo de chocolate, fez sucesso com o restaurante no Mercado de St.ª Clara (à Feira da Ladra); o Espaço Açores está no mercado da Ajuda; os de Picoas e Alcântara têm boas casas de peixe; e etc.

O mercado de Campo de Ourique, fundado em 1934 e agora renovado, teve enorme sucesso em Dezembro último, ainda por cima num bairro pejado de restaurantes agradáveis e a preços contidos – ficando agora em velocidade de cruzeiro. Mesmo no meio das bancas dos vendedores, instalaram-se 16 quiosques, que vão desde os hambúrgueres (U'Tray) às francesinhas, passando por casas especializadas em carne (Atalho), mariscos, francesinhas (as sanduíches nortenhas estão mesmo de moda), sushi, pizzaria, bebidas e até gelados (embora me tenham decepcionado os que aqui se vendem, no Gelati di Chef).

Os quiosques dos hambúrgueres e das carnes serão os de maior sucesso. E o facto de não haver tabuleiros por serem proibidos (um problema que os proprietários tentam contornar como podem) e de ser forçoso passear de quiosque em quiosque (as bebidas compram-se num sítio, as sobremesas noutro…), não parece demover a clientela. O estilo adoptado pede maior juventude dos utilizadores. Mas vê-se gente de todas as idades.
Os vendedores aderiram aqui ao modelo, acabando por ganhar com ele uma nova clientela, e alargando até o seu horário de funcionamento.

Este, precisamente, é um problema mais complicado na Ribeira. Talvez por terem paredes maiores e mais espessas a separarem-nos da zona de restauração, e possivelmente intimidados com os nomes sonantes que a povoam (desde os chefes Alexandre Silva, Castro e Silva, Sá Pessoa, Marlene Vieira ou Vítor Claro a casas com a aura da Garrafeira Nacional, Café de São Bento, Sea Me, Conserveira Nacional, Manteigaria Silva, pastelaria Aloma, etc.), a verdade é que os vendedores parecem resolutamente alheados da novidade, talvez até hostis. Neste caso, embora a zona das mesas seja igualmente comum, já se usam tabuleiros, e quase todos os quiosques fornecem a refeição completa, desde a entrada à sobremesa, passando pelo prato principal e bebida. Mesmo assim, nota-se a força da moda: as maiores bichas estão normalmente em frente do Honorato dos hambúrgueres ou do Prego da Peixaria (Sea Me).

A Time Out, aqui concessionária, pretende avançar com uma segunda fase num piso superior, onde terá representação de outras actividades de que trata (desde as culturais, num auditório, até às mais comerciais, numa loja portuguesa a abrir por Catarina Portas). Este andar talvez resolva o problema embaraçoso dos pombos que andam pelo tecto de pé alto, a deixar cair as suas descargas junto às mesas e aos tabuleiros de comida. 

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