É num mar de dúvidas que o Benfica enfrenta hoje o Rio Ave, na discussão do primeiro troféu da nova época (20h45, RTP 1). A uma semana do arranque da 1.ª Liga, o Estádio Municipal de Aveiro recebe a Supertaça numa altura em que, face à sucessão de derrotas nos jogos de preparação e à debandada que se está a verificar no plantel dos campeões nacionais, vive-se na Luz em inesperado sobressalto.
Quem diria que, nem três meses após ter sido coroada vencedora do Campeonato e da Taça de Portugal sem dar grandes hipóteses à concorrência, a capacidade da equipa ‘encarnada’ estaria já a ser posta em causa até pelo próprio Jorge Jesus. As saídas de Oblak e Markovic não estariam nos planos do técnico – e juntando-as às transferências já previsíveis de Garay, Cardozo e Rodrigo constituem um duro golpe na espinha dorsal que levou o Benfica a lutar em todas as frentes na época passada. E ainda falta definir o futuro de outros dois titulares indiscutíveis, casos de Enzo Pérez e Gaitán, que estão mais próximos de partir do que de ficar. É uma revolução em marcha.
«Sou Jesus, mas…», desabafou há dias o treinador, habituado a mudanças forçadas a cada nova temporada, mas nunca nas proporções actuais.
Como se não bastasse, os reforços demoram a impor-se. E por muito que Jesus avise que precisam de tempo para assimilarem as ideias, o tempo acaba amanhã. No dia a seguir já é a sério e esta Supertaça, ao contrário do que seria de supor, reveste-se de maior importância: além do troféu em jogo, será a primeira aferição do que vale o novo Benfica.
«A adaptação dos novos jogadores tem sido difícil», admitiu o treinador após as derrotas amargas nos particulares com o Arsenal e o Valência. «Ainda não entenderam as exigências da equipa», acrescentou, numa tentativa de desvalorizar essas dificuldades com o cansaço motivado pelos treinos de pré-época.
Reforços de peso procuram-se
Jogadores como Derley, Talisca ou Luís Filipe não têm correspondido às expectativas e obrigam o clube a um maior critério – e investimento – na escolha dos reforços que ainda são necessários para compensar as saídas: um guarda-redes, um médio defensivo e um avançado. Todos eles terão de ser de nível superior, sob pena de o Benfica perder terreno para a concorrência, em especial o FC Porto.
«Espero não perder mais nenhum jogador, se não vou eu também, vai tudo», deixou escapar Jesus a propósito da iminente saída de Enzo, enquanto analisava perante as câmaras o duplo desaire que a equipa sofreu em Inglaterra, há uma semana.
O médio argentino, apesar de só ter alinhado alguns minutos pela equipa B na pré-época, deverá entrar de início na Supertaça, mas dificilmente fará mais jogos pelo Benfica antes da anunciada saída para o Valência. A insatisfação já manifestada pelo treinador em jeito de desabafo terá de ser compensada com reforços de peso. Jesus não esconde que Enzo é o seu jogador de eleição no actual Benfica e tudo fará para o manter.
Uma boa notícia para as hostes ‘encarnadas’ é que Luisão e Jardel recuperaram de lesões e estão aptos para a Supertaça, tal como os outros centrais Steven Vitória e Lisandro López.
Do lado do Rio Ave, que vai disputar a prova por ter sido finalista da Taça de Portugal frente ao Benfica, há a noção de que a prioridade desta fase era a pré-eliminatória da Liga Europa com o Gotemburgo – mas a possibilidade de conquistar um título será um aliciante extra para uma equipa desabituada destas andanças.
Será a 36.ª edição da competição, que assinala a estreia absoluta dos vila-condenses e a 15.º participação das ‘águias’, com as anteriores a ficarem marcadas pela escassez de títulos: apenas quatro – o mais recente em 2005, com o holandês Ronald Koeman ao leme.
Foram sempre treinadores estrangeiros a conquistar o troféu para o Benfica, pelo que Jorge Jesus tem a segunda oportunidade para quebrar o enguiço e juntar-se também ao húngaro Lajos Baroti (1980), ao inglês John Mortimore (1985) e ao sueco Sven-Goran Erickson (1989). Na primeira tentativa do actual treinador, em 2010, os ‘encarnados’ perderam o troféu para o FC Porto.
O lisboeta Duarte Gomes é o árbitro escolhido.