Na altura, a nova ministra era alvo de um ataque cerrado na imprensa, que punha em causa a sua capacidade para desempenhar o cargo e questionava a sua honorabilidade.
Maria Luís era acusada de ter mentido no célebre caso dos swaps, e alguns jornais chamavam-lhe ‘Mrs. Swap’.
Quando olhamos para trás, este exemplo mostra como a luta política é mesquinha e o jornalismo pode ser ridículo.
O certo é que, em meia dúzia de dias, a nova ministra convenceu os cépticos e calou os críticos.
E, logo a seguir, tornou-se uma peça fundamental no Governo.
Passou um ano. Subitamente, surgem notícias dando conta da possibilidade de Maria Luís Albuquerque ser escolhida pelo Governo para comissária europeia – e a surpresa é geral.
Como era possível Passos Coelho prescindir de uma pedra tão importante?
Ainda por cima, esta hipótese trazia de novo à memória a saída de Durão Barroso para Bruxelas a meio do mandato, criticada por muitos.
Avançaram-se várias explicações para a saída da ministra.
Teria Maria Luís entrado em conflito com Paulo Portas?
Estaria farta da pasta – que é esgotante e antipática, porque implica estar sempre a dizer que não – e quereria mesmo sair?
Desejaria muito seguir uma carreira internacional, não querendo perder uma oportunidade de ouro?
Saber-se-ia depois que a ideia partira do sucessor de Durão Barroso, Jean-Claude Juncker.
O novo presidente da Comissão Europeia gostaria de ver Maria Luís na sua equipa (facto que fazia lembrar as transferências do futebol, em que as equipas mais fortes vão buscar os melhores jogadores às mais fracas).
E, como sucede no mundo do futebol, consta que Passos Coelho estabeleceu o seu preço: Maria Luís só iria em certas condições, consideradas prestigiantes para Portugal.
Juncker não aceitou – e quem acabou por ir foi Carlos Moedas (apontado como sucessor da ministra das Finanças se esta deixasse o Governo).
Fechado este dossiê, deve dizer-se que a coligação escapou à tangente de dar um enorme tiro no pé.
Não porque Moedas não fosse um bom nome para as Finanças.
Tendo sido responsável pela aplicação do programa da troika, ele não se afastaria um milímetro do rumo traçado até aqui – até porque, segundo se sabe, não é um homem dado a cedências.
A questão não era essa.
A grande questão é que, nas legislativas do próximo ano, Maria Luís Albuquerque pode ser um importantíssimo trunfo eleitoral.
A maneira tranquila – e, ao mesmo tempo, firme e segura – como fala em público projecta uma imagem de seriedade e competência.
Maria Luís gera confiança nas pessoas.
Assim sendo, a sua presença na campanha para as legislativas, ao lado de Passos Coelho e Paulo Portas, pode ser um factor de peso.
Inversamente, a sua saída do Governo seria um duro golpe nas expectativas eleitorais da coligação.
No meio de tudo isto, a sacrificada é a própria Maria Luís Albuquerque.
Com um perfil aparentemente mais técnico do que político, teria tido toda a vantagem em ir para a Comissão: tal poderia ser o início de uma auspiciosa carreira internacional.
Obrigada a ficar em Lisboa amarrada ao gélido gabinete do Terreiro do Paço, terá sofrido uma cruel desilusão, vendo o falhanço da sua ida para Bruxelas como uma espécie de castigo.
Mas nem sempre aquilo que parece é.
Quem sabe se Maria Luís Albuquerque não tem ambições políticas?
E, nesse caso, a próxima campanha para as legislativas poderá ser para ela um momento importante de afirmação.
Uma oportunidade para ver se terá condições para suceder um dia a Pedro Passos Coelho na liderança do PSD.