As novelas e o fascínio da TV

Talvez o facto de eu ter uma certa exigência intelectual nos livros que leio (evito, por exemplo, a chamada literatura light) e nos filmes que vejo, me leve a fugir das telenovelas nacionais como o diabo da Cruz, ou Maomé do toucinho. Ainda por cima, a que agora sempre aqui me traz, é a ‘Água…

Porque será que as autoridades locais aceitaram conceder tantas facilidades para os autores de tamanha ibecilidade estarem aqui a filmar, se nem o nome da terra aparece – e tudo é abaixo de mau?

Ainda por cima, os eleitores locais são prejudicados. O caminho para o principal hotel da terra está frequentemente fechado, por causa das filmagens. E, apesar de ser Agosto, os banhistas não podem andar à vontade na praia, por causa das filmagens. E, apesar de estarmos numa das zonas de Portugal com melhores legumes, saladas e frutas, e a preços mais baixos, dizem-me que até a comida vem de Lisboa – pelo que nem os produtores locais ganham nada com a parvoíce televisiva.

Em suma, o que leva os autarcas a descontentarem o seu eleitorado, para satisfazer uma coisa que vai passar na TV, sem nenhum benefício para eles ou para a terra?

É a mesma coisa da festa da TVI em Portimão: incomoda toda a gente, não satisfaz ninguém, foi banida pelo tribunal – mas fez-se na mesma, com o apoio das autoridades municipais.

Como dizia o Sábio Soares Louro, ex-presidente da RTP, aquela caixinha de imagens enlouquece as pessoas, dando-lhes fama, mas também esfolando-lhes a imagem.