Escassez de voos impede saída de lusodescendentes da Venezuela

A falta de lugares disponíveis nos voos internacionais na Venezuela está a causar dificuldades aos imigrante portugueses e lusodescendentes, que estão a ver-se impedidos de sair do país.

"Eu gosto de ir a Portugal, de visitar a milha ilha (Madeira). É uma maneira de passar umas boas férias, mas as coisas estão complicadas e as companhias não estão fazendo reservas por cá”, diz Carlos Perregil, comerciante português em Caracas.

A solução é pedir a agências de viagens no exterior que comprem as passagens. Depois, “emitem os bilhetes e mandam para cá”, explica Carlos Perregil.

No entanto, para fazer este tipo de compra, é necessário um cartão de crédito de outro país, algo que Carlos Perregil não tem.

"Sinto grande mágoa, porque gosto muito de ir ao nosso país, mas não somos milionários, somos pessoas de baixos recursos que trabalhamos o dia-a-dia para ganhar o dinheiro para o sustento”, frisou o emigrante português, de 45 anos, filho de naturais da Calheta e Câmara de Lobos.

O comerciante disse ainda que é importante que as companhias aéreas e o Governo venezuelano cheguem a um acordo em quanto à repatriação de capitais correspondentes às vendas, o que acredita poderá só acontecer em 2015.

"Sinto-me mais distante de Portugal, isolado. Estou aqui e como não tenho maneira de sair da Venezuela sinto-me preso, triste e deprimido", desabafou.

Natural de Machico, Madeira, Fernando Correia, 56 anos, foi obrigado a romper com a tradição de visitar todos os anos Portugal, no Verão ou no Natal.

“Em Março, quando fui comprar [os bilhetes], disseram-me que não havia lugares", recorda.
Vários representantes de agências de viagem também confirmaram à Agência Lusa que há muitos destinos para os quais é impossível fazer reservas.

Desde 2003 que vigora na Venezuela um apertado sistema de controlo cambial que impede a livre obtenção de moeda estrangeira no país e obriga as companhias aéreas a terem autorização para poderem repatriar os capitais gerados pelas suas operações.

Segundo a IATA, a Venezuela "deve actualmente 4,1 mil milhões de dólares (3,05 mil milhões de euros) às companhias aéreas internacionais", relativos à repatriação dos capitais e lucros correspondentes às vendas de bilhetes de avião desde 2012, a qual tem sido dificultada pelas leis cambiais vigentes.

Nessa situação está também a portuguesa TAP e outras 13 transportadoras internacionais.

Estas dificuldades levaram a Air Canada a suspender os voos para Caracas, enquanto a American Airlines e a Lufthansa, reduziram significativamente as suas operações.

Recentemente, a norte-americana United Airlines anunciou que reduzirá, a partir de 17 de Setembro, as operações aéreas para a Venezuela, passando a realizar apenas quatro voos semanais entre Miami e Caracas e deixando de voar aos domingos, quartas-feiras e sextas-feiras.

Governo português espera solução rápida

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas disse neste domingo esperar uma solução rápida no problema das viagens aéreas da Venezuela, salientando que esta é uma questão entre aquele país e as companhias aéreas.

“A questão das acessibilidades é uma questão muito delicada, é uma problemática que conhecemos há algum tempo e que, repito, espero que venha a ter um desenvolvimento o mais breve possível”, afirmou à agência Lusa José Cesário, na Batalha, onde hoje esteve na assinatura de um protocolo de colaboração entre o município e a Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa e na apresentação da Associação da Diáspora Batalhense.

José Cesário sublinhou que esta “não é uma questão do Governo português”, mas “da relação entre a Venezuela e as companhias aéreas”, pelo que não pode intervir.

“A questão é esta, há voos disponíveis, há lugares disponíveis nos voos, simplesmente nós compreendemos que as companhias aéreas só os vendam com garantias de pagamento e, portanto, até esse problema estar resolvido, temos uma situação delicada”, explicou.

Considerando não estar em causa a acessibilidade, “mas o modo como pagar os bilhetes”, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas reiterou que é isso que espera que “evolua positivamente”.

“Estamos o mais solidários possíveis, só há uma coisa que nós não podemos fazer, é mandar determinar o que é que as companhias aéreas podem e devem fazer”, declarou.

José Cesário garantiu ainda que o Governo português está muito atento à comunidade portuguesa na Venezuela que “está a passar por momentos muitíssimo delicados”.

“A Venezuela obviamente também tem problemas e, por isso, esperamos com muita paciência que esta fase seja ultrapassada e os principais problemas com que os venezuelanos em geral e, neste caso concreto, os portugueses em particular se confrontam possam vir a ser ultrapassados”, acrescentou.
 

 

SOL/Lusa