Kizomba, um fenómeno mundial

“Kizomba is soft. Suave. You don’t run”, explica o mestre Petchú a Camilo, um australiano de 25 anos que veio dos antípodas para Lisboa para aperfeiçoar os movimentos de kizomba. Há dois anos, Camilo estudava na Dinamarca quando viu pela primeira vez um amigo cabo-verdiano dançar kizomba e não foram precisas muitas horas para o…

Ansioso por saber mais, Camilo seguiu o conselho do amigo cabo-verdiano e veio para Lisboa, para aprender com Pedro Tomás, mais conhecido como mestre Petchú. “Disseram-me que se quisesse tornar-me realmente bom tinha de ser seu aluno. Juntei dinheiro, fiz as malas e vim para Lisboa”, conta ao SOL.

Durante dois meses, Camilo viveu na casa de Petchú para, além dos passos de kizomba, mergulhar na cultura angolana. “É uma dança com uma ligação muito forte ao contexto cultural e quis viver isso tudo. Dançar kizomba, almoçar muamba, sair para noites africanas…”, diz Camilo, que assim que regressou à sua cidade natal, Melbourne, começou a trabalhar na criação de um festival de kizomba, cuja primeira edição acontece já em Setembro deste ano. É por causa do Melbourne Kizomba Festival que Camilo está de volta a Portugal, “o país onde é mais fácil encontrar a cultura angolana na Europa”.

Ao lado de alunos vindos de França, Itália, Alemanha, Venezuela, Quénia e Áustria, Camilo frequenta agora uma formação de uma semana para quem quer dar aulas de kizomba. “São técnicas para desconstruir os movimentos”, explica Petchú, que é também bailarino, coreógrafo e membro fundador do Ballet Tradicional Kilandukilu.

“Isto tudo começou há 18 anos, quando me mudei de Luanda para Lisboa. Participava em festivais e, um dia, desafiaram-me a dar aulas de semba e kizomba. Depois de uma primeira aula que correu muito mal, percebi que tinha de criar um método para quem não cresceu no mesmo contexto que eu”.

A Geometria da Kizomba, como lhe chama, é um catálogo de passos e combinações usado por alunos e professores em todo o mundo, excepto em Angola. “Em Angola aprende-se em casa, com os pés por cima dos pés de pais, tios, irmãos. É algo que faz parte do dia-a-dia”, explica o professor, que usa cabos de vassoura antes de homem e mulher formarem um par.

Com o sucesso das aulas em Lisboa, começaram a surgir convites para festivais internacionais. “Viemos agora dos Estados Unidos e demos workshops para salas inteiras de americanos em Nova Iorque, Los Angeles, Seattle, Miami e São Francisco”, diz  a parceira de Petchú, Vanessa Carvalho. E refere que o fenómeno tem ajudado a música angolana a crescer. “Em França, o C4 Pedro já actuou em alguns festivais graças à dança”.

Foi num desses festivais que a francesa Adélaïde Caix, de 30 anos, descobriu a kizomba. Bailarina clássica há vários anos, decidiu procurar Petchú para “saber como se ensina”. “No ballet aprendi a dançar em pontas, esticar a barriga e encolher o rabo. Aqui é tudo ao contrário. Relaxar a cintura e empinar o rabo para fora. É preciso mudar a cabeça toda”. 

alexandra.ho@sol.pt