Não seguindo o anexim de que “a mulher se quer pequena e dançarina / como a sardinha”, até as prefiro frescas e grandes, da nossa costa, de preferência das águas frias e batidas de Peniche.
Quando em mar alto a ondulação cai e a superfície surge coberta por uma espécie de gordura espessa, o 'alvainho', o pescador experiente, sabe que é chegada a hora de lançar as redes a um enorme cardume de sardinhas. As que se apanham na costa portuguesa sobem normalmente das águas africanas, à procura de temperaturas mais baixas. Atingem o tamanho ideal em Julho-Agosto, embora o consumo se intensifique em Junho, com os Santos Populares. Por isso, é em Novembro que se formam as maiores comunidades dentro do nosso mar, com ovulações nos estuários.
A maior migração de sardinhas, chamada sardine run, dá-se na costa da África do Sul, onde anualmente, e acompanhando uma corrente de água fria, chega um cardume impressionante, com perto de 20 kms de comprimento, e 60 mts de largura.
Por cá, a sardinha assada tornou-se petisco nacional por excelência. Começou no século XVII o costume, em Lisboa, nas classes populares, de as comer com pão, onde pinga a gordura do peixe assado.
A paixão pela sardinha existe no nosso território desde muito antes da nacionalidade. Presume-se vir dos tempos da ocupação Fenícia, e ter sido depois desenvolvida pelos romanos (que de cá as exportavam pelo mundo fora, em ânforas) e muçulmanos – até se manter na era cristã.
Actualmente, desembarcam-se nas lotas nacionais cerca de 65 toneladas de sardinhas por ano (e é o único peixe da Península a obter certificado de qualidade) – que se destinam a serem consumidas frescas ou congeladas, em conserva, e para fabrico de farinha de peixe.
Embora a primeira fábrica de conservas nacional surgisse em 1865 em Vila Real de St.º António, Algarve, uma especificamente de sardinhas enlatadas apareceu em Setúbal, em 1880. E temos em Portugal, desde 1936, o Instituto Português de Conservas de Peixe, para estimular a sua produção e exportação.
O nome 'sardinha' vem da ilha da Sardenha, onde já foram abundantes. Hoje diz-se que têm no sistema sanguíneo um importante lípido, o ómega-3, que se julga ser um protector do coração.
E se a sardinha assada é o prato popular português por definição, há cada vez mais receitas: perdizes com sardinhas, espetada de sardinhas, açorda, arroz ou caldeirada de sardinhas, migas com tomate e sardinhas, ou as simples sardinhas marinadas.