Volta a Portugal no Sul é prioridade para 2015

O percurso de cada edição começa a ser pensado com anos de antecedência e envolve negociações com os municípios, que pagam 37.500 euros por partida e 60 mil por chegada de uma etapa.

Ainda o espanhol Gustavo Veloso, da equipa portuguesa OFM-Quinta da Lixa, dava as últimas pedaladas na etapa que o consagrou como vencedor da Volta a Portugal, no passado domingo, em Lisboa, e já a maior parte do percurso para 2015 estava idealizado. O interesse crescente das autarquias em receber a corrida assim o determina.

Como tem sido hábito nos últimos anos, a principal prova de ciclismo no país voltou a privilegiar partidas em locais distintos das chegadas do dia anterior – e a aposta é para continuar.

"Desde o início dos anos 2000, quando a Volta passou a ter menos dias de corrida por imposição da UCI [União Ciclista Internacional], temos tido essa preocupação, de forma a cobrirmos uma mancha maior do território nacional. E na próxima edição vai haver um esforço da nossa parte para que volte a arrancar no Algarve e a passar pelo Alentejo", adianta ao SOL o director da Volta a Portugal, Joaquim Gomes.

As duas regiões ficaram de fora este ano e é prioridade da organização levar a prova ao Sul em 2015. Mas será preciso convencer os municípios a cumprirem os requisito: por cada partida de etapa pagam 37.500 euros e uma chegada atinge os 60 mil euros. No caso da primeira e última etapa, os valores ultrapassam os 200 mil euros.

"Como uma das contrapartidas que têm é o uso de espaço publicitário nos últimos dois quilómetros da etapa, muitos municípios conseguem apoios importantes de empresas da região. É uma forma de amenizarem os custos para receberem da Volta", explica o ex-ciclista, dando como exemplo Mondim de Basto, onde foram os comerciantes a fazer força para que a Senhora da Graça não desaparecesse de cena.

Face à crise dos últimos anos, "a necessidade aguçou o engenho", com a estratégia de não repetir o local da chegada nas partidas do dia seguinte a permitir uma poupança às autarquias, que assim passaram a ter apenas um desses encargos. Logo após as eleições autárquicas de 2013, a organização da Volta recebeu propostas de cidades para acolherem a prova nos quatro anos dos mandatos. E se em alguns casos, como o de Lisboa, houve interesse mútuo em fixar uma ligação a médio-prazo, noutros não foi possível.

2.500 pessoas por dia

"Temos um grupo de municípios âncora que constituem a espinha dorsal do percurso da Volta para cada ciclo autárquico, o equivalente a 60% dos locais de passagem. Viseu, Castelo Branco e Fafe, que está connosco há 13 anos consecutivos, são exemplos, assim como Lisboa. Mas depois temos de deixar em aberto os restantes 40% do percurso, se não a Volta ia aos mesmos sítios todos os anos", sublinha Joaquim Gomes.

Em 2014, houve quatro municípios a estrearem-se em partidas ou chegadas de etapas, através das localidades de Boticas, Oleiros, Burinhosa e Montalegre. Este última, em Trás-os-Montes, revelou-se um sucesso, ao ‘oferecer’ uma nova subida ao pelotão, na Serra do Larouco.

"Contactaram-nos no final da Volta de 2013 e cumpriram com tudo o que foi exigido, como asfaltar os últimos seis ou sete quilómetros da subida", conta o director da corrida, para quem "a Volta saiu a ganhar" com mais esta alternativa montanhosa.

Com um orçamento "ligeiramente acima dos quatro milhões de euros", a Volta a Portugal garante 30% do bolo por via dos municípios – os restantes 70% são suportados por patrocinadores – e Joaquim Gomes nota uma adesão cada vez maior como resultado do actual modelo de gestão. "É preciso ter em conta que a Volta arrasta todos os dias mais de 2.500 pessoas nas localidades por onde passa. Em Chaves, Boticas ou Montalegre os hóteis estiveram lotados".
Na estrada, Gustavo Veloso venceu com 1m45s de vantagem sobre o português Rui Sousa (Rádio Popular) e 2m38 sobre o companheiro de equipa Delio Fernández.