Salgado continua a trabalhar todos os dias num escritório improvisado no Hotel Palácio do Estoril. É aconselhado pelo advogado Proença de Carvalho, tem agência de comunicação e já deu mais entrevistas nas últimas semanas do que no último ano de mandato. Ao Diário Económico, disse que queria “lutar pela honra e dignidade da família”. Ao Estado de São Paulo, disse não ter sido o “pivot” da crise, alegando que “cada um [da família] respondia por uma actividade de negócio”.
O principal visado destas declarações era o primo Manuel Fenando Espírito Santo, que esteve à frente de várias empresas do grupo onde foram encontrados indícios de irregularidades, como a Rioforte ou a Espírito Santo Internacional. José Maria Ricciardi também foi visado, por dirigir o BES Investimento (BESI), que avaliou activos do grupo.
O SOL soube que estas declarações fizeram estrondo na família – que, tal como Salgado, tem aconselhamento de advogados e argumentos que, no limite, podem ser levados a tribunal. A ocultação de informação relevante aos restantes administradores do grupo e a manipulação de contas que serviram de base à avaliação de activos, sem conhecimento de terceiros, são os principais argumentos para apertar o cerco a Salgado e responsabilizá-lo por actos de gestão danosa.
Uma das peças-chave da argumentação é o facto de muitas decisões serem tomadas “sem votação”, como Ricardo Salgado admitiu na acta do último conselho de administração antes do resgate do BES, que o SOL divulgou.
Poder formal mantém-se
Há elementos da família Espírito Santo a garantir que “Ricardo Salgado não fala em nome da família”, preocupados com a exposção do gestor. Além de manter intervenções em público, apesar de estar a ser investigado pelas autoridades e ser arguido em processos judiciais, Salgado ainda tem cargos formais no grupo.
Nos dias quentes que ditaram a queda do grupo, o gestor renunciou aos cargos no BES e no BESI, mas na ESFG não houve qualquer pedido de demissão comunicado à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM). Em Maio, Salgado foi reeleito até 2020 como presidente desta sociedade.
O tema da sucessão de Salgado marcou o grupo nos últimos meses, embora tenha sido posto em 'banho-maria' com o colapso do banco. Mas a família terá de encontrar nomes na nova geração para conduzir um eventual processo de reconstrução do grupo.
Embora a viabilidade da ESFG seja duvidosa – os seus principais activos eram o BES, que agora é um banco mau, e a Tranquilidade, que vai ser vendida -, se os juízes luxemburgueses decidirem que a empresa pode continuar em actividade, com algum tipo de medidas de recuperação, Salgado será ainda o principal nome na empresa.
Caetano Beirão da Veiga, que gere interesses do grupo na área do imobiliário, é um dos nomes potenciais – assumiu em Julho cargos de administração nas holdings que entretanto pediram protecção de credores. Antes do colapso, Bernardo Espírito Santo era outro elemento apontado.