Em 2011, Cristina Martins, coordenadora da secção do PS da Sé Nova, em Coimbra, alertou António José Seguro e outros dirigentes socialistas para irregularidades na federação do partido no distrito. Foi detectado um número excessivo de inscrições de militantes, algumas incompletas, com moradas erradas ou com o mesmo e-mail.
Uma das fichas, de um militante que se apresenta como bancário no BPN, dá como morada as Escadas Monumentais – que dão acesso ao pólo 1 da Universidade de Coimbra, onde não há residências. Noutro caso, dá-se como morada a Rua Venâncio Rodrigues, sem qualquer número de porta (por coincidência, no número 16 é a PJ).
Noutros casos, as fichas de militantes que foram parar à Sé Nova tinham inscritas moradas que colocariam os militantes noutras secções do distrito, por exemplo em Santo António dos Olivais ou em Condeixa-a-Nova. Segundo Cristina Martins, também foram detectados 15 ou 20 militantes a viver na mesma morada, inclusive na residência de militantes do PS, que afirmaram desconhecer o facto.
Seguro e outros dirigentes avisados
Por exemplo, numa das fichas, a mesma morada não só correspondia a outra secção do partido (a Santo António dos Olivais e não à Sé Nova, onde se tentava inscrever), como já tinha sido dada por outros três militantes, em Penela.
Nas fichas suspeitas a que o SOL teve acesso, os militantes foram propostos por Pedro Coimbra (actual presidente da Federação e novamente candidato) e por Rui Duarte (deputado e actual presidente da concelhia). Algo recorrente nos restantes casos, garante Cristina Martins. Além disso, na altura, a aprovação foi feita por Pedro Coimbra, que assinava como vice-presidente da Federação – um cargo que, segundo a socialista, não existia à data.
Outra questão é que estes militantes foram aceites na sede do PS numa data anterior ao parecer da própria Sé Nova, onde se queriam inscrever. Por exemplo, um militante deu entrada no PS a 29 de Março de 2010, quando o parecer (desfavorável) da secção é de 3 de Maio.
A socialista diz ter alertado o secretário-geral do PS para o caso e, numa reunião em Outubro de 2011, entregou cópias das fichas suspeitas a Miguel Laranjeiro, actual secretário para a Organização, ao dirigente Eurico Brilhante Dias e ao presidente da Comissão de Jurisdição Nacional, Ramos Preto. Às fichas anexou documentos, como mapas da cidade, explicando por que considerava irregulares aquelas inscrições. Apresentou ainda queixa na Comissão de Jurisdição Federativa e também na Comissão de Jurisdição Nacional. “Nunca me responderam”, garante ao SOL.
Sem resposta do partido, Cristina Martins levou o caso ao Ministério Público de Coimbra e denunciou-o na Comunicação Social – o que lhe custou a expulsão do partido, no mês passado. Garante que nos cadernos eleitorais que estão a ser utilizados para as eleições da Federação de Coimbra, a 5 de Setembro, continuam a constar falsos militantes. O fundador do PS, António Campos, já pediu a refiliação de todos os militantes de Coimbra e intentou uma providência cautelar para suspender as eleições.
“Há pelo menos 60 casos de falsos militantes em 2010 que estão nos cadernos, de 2011 continuam alguns e de 2012 foram retirados uns mas outros foram alterados (por exemplo, estavam a trabalhar em Penela e agora constam em Coimbra, para mudar de concelhia”, acusa Cristina Martins.