Na extrema-esquerda avançará um candidato ligado ao PCP, outro ligado ao BE – que poderá ser Francisco Louçã – e nos independentes deverá candidatar-se Marinho Pinto (e, eventualmente, Carvalho da Silva).
Mas serão candidaturas apenas para marcar presença.
Do lado da direita, apresentar-se-á com certeza alguém da área do PSD, embora com poucas hipóteses de ganhar.
Os nomes possíveis são Pedro Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio e, mais remotamente, Durão Barroso.
Santana Lopes já deu a entender que avança, mas só o poderá fazer com o apoio expresso do PSD; e Passos Coelho, por muita simpatia que tenha por ele, só o apoiará se se formar dentro do partido um consenso nesse sentido e caso se perspective um resultado digno.
Noutras circunstâncias, Passos não terá condições para o apoiar.
Marcelo não disse que sim nem que não, disse ‘nim’; e julgo que só avançaria se tivesse grandes hipóteses de vencer – o que, com Guterres do outro lado, é muito difícil.
Dadas as características de personalidade de Marcelo, arrisco-me a dizer que não será candidato se tiver Guterres como adversário.
Rui Rio já declarou que poderia avançar se houvesse uma onda nesse sentido, uma espécie de ‘sobressalto nacional’; mas por que carga de água os portugueses se juntariam para pedir a Rio que se candidatasse a Belém?
Resta Durão Barroso, que já disse que não avançava.
Todos sabemos como são relativas estas declarações a tanto tempo de distância.
Mas julgo que Durão acha que este não é ainda o seu tempo; só se Santana e Marcelo se retirassem é que ele poderia considerar uma candidatura.
Com todas estas dúvidas e condicionantes na área do PSD, acho provável que o CDS apresente um candidato da sua área.
Este poderá ser Bagão Félix, Paulo Portas (hipótese em que não acredito) ou uma figura como Lobo Xavier.
Mas o candidato do CDS será, à imagem do da extrema-esquerda, um candidato só destinado a marcar terreno, sem condições para intervir (mesmo como actor secundário) na batalha principal.
Tudo somado, António Guterres terá, pelo menos, 80% de hipóteses de ganhar.
Curiosamente, as suas características são muito semelhantes às de Mário Soares: não foi um bom primeiro-ministro mas pode ser um bom Presidente da República.
Um e outro são uma espécie de ‘políticos chapéus de chuva’: figuras capazes de abrigar muita gente sob a sua asa.
E, significativamente, aquilo que o aproxima de Soares afasta-o de Cavaco.
Cavaco era um primeiro-ministro firme, gostava de decidir, era determinado, convicto e até autoritário; no entanto, parece exercer a Presidência da República a contragosto.
Guterres foi um primeiro-ministro vacilante, com dificuldade em decidir, pouco firme e permissivo; mas pode gostar de ser Presidente, pois é um gerador natural de consensos.
A este propósito, Pina Moura, que foi seu ministro das Finanças e da Economia, contou-me há anos que, em 2001, levou a Guterres, então primeiro-ministro, uma lista de 50 medidas de austeridade indispensáveis para equilibrar as finanças públicas.
Imagine-se: há 13 anos este assunto já estava na ordem do dia!
Mas Guterres assumiu que não era capaz de o fazer – e isso terá sido determinante para a sua demissão a meio do mandato.
Entretanto, se Guterres não tinha condições psicológicas para ser um primeiro-ministro à altura do que o país necessitava, pode ser um Presidente apreciado pelo povo.
Tem experiência política e experiência internacional, como Soares tinha; entra bem no eleitorado de centro-direita, como Soares entrava; é católico (e aqui difere de Soares).
Além disso, as suas preocupações sociais serão um bom trunfo numa candidatura a Belém.
Se a candidatura se confirmar e Guterres ganhar, haverá outra coincidência: Guterres sucederá a Cavaco em Belém, depois de lhe ter sucedido em S. Bento (onde Cavaco esteve, como estará em Belém, 10 anos no cargo).
A História pode, portanto, repetir-se.
Só se espera que Guterres, se for mesmo o sucessor de Cavaco na Presidência, não se demita a meio do 2.º mandato – como aconteceu quando foi primeiro-ministro.
E, já agora, importa saber com quem Guterres coexistirá – se com um Governo do PS, se com um Governo do PSD.
Isso fará toda a diferença.