Fair-play não afecta clubes ricos

Com um prejuízo de 152 milhões de euros entre o que gastou em reforços e recebeu em jogadores vendidos, o Manchester United não incorre em qualquer violação das regras de fair-play financeiro da UEFA. Arsenal (-86 milhões de euros), Barcelona (-76), Liverpool (-58), Borussia de Dortmund (-52) e Paris Saint-Germain (-48) também não.

Fair-play não afecta clubes ricos

Todos estes clubes estão entre os 12 mais ricos do mundo, de acordo com a consultora Deloitte. E sendo dos que mais receitas geram podem dar-se ao luxo de grandes investimentos em contratações sem entrarem no vermelho. O fair-play financeiro da UEFA visa o equilíbrio das contas dos clubes e não limitar os gastos com jogadores por si só.

“Manchester United, Barcelona, Real Madrid ou Bayern Munique têm arcaboiço para manter essas despesas. Porque têm contas equilibradas. O que está em causa são os clubes estão a viver acima das suas posses”, explica ao SOL Camilo Lourenço, jornalista licenciado em Direito Económico.

'Vista grossa'

A UEFA tem apertado mais o cerco aos clubes que têm dívidas a outros – ou a jogadores, à Segurança Social e ao Fisco. No passado o Sporting e muitos outros receberam apenas avisos por esse motivo, mas agora houve mão pesada para o Estrela Vermelha, campeão da Sérvia, impedido de jogar a Liga dos Campeões deste ano.

Esta é a punição mais dura prevista para quem quebra as regras do fair-play financeiro, mas a UEFA tem adoptado uma política mais flexível nos casos em que o problema é o desvio nas contas. Antes da exclusão das provas europeias, os clubes podem ser sancionados com penas mais leves como a advertência, a repreensão ou a multa – e é esse o caminho que tem sido seguido.

“Há uns anos a CMVM dizia que as SAD's dos clubes cotadas em bolsa eram das empresas mais incumpridoras, mas fazia vista grossa porque contava que com aquela pedagogia acabassem, com o tempo, por revelar algum cuidado com as contas. E a UEFA parece-me estar a lidar com o fair-play financeiro da mesma forma cautelosa. Para que os clubes acabem por ser cumpridores sem necessidade de sanções”, observa Camilo Lourenço.

As regras são tudo menos rígidas. Para esta e a próxima época estipulam um prejuízo máximo acumulado de cinco milhões de euros, mas permitem que atinja os 45 milhões se o valor for coberto pelos donos, accionistas ou investidores. Para o triénio que se seguirá, de 2015 a 2018, o limite máximo do desvio baixa para os 30 milhões de euros. E daí em diante não há nada definido, o que transmite a ideia de que “a própria UEFA não sabe muito bem o chão que está a pisar”, sublinha o jornalista.

Um obstáculo que o organismo liderado por Michel Platini não previu foi a injecção de dinheiro nos clubes através dos seus proprietários por via indirecta, como aponta Camilo Lourenço: “Descobriram tarde demais que há magnatas espertalhaços que acabam por lá meter dinheiro através de patrocínios das suas empresas”.

Um 'truque' que acaba por inflacionar o valor das receitas e com isso permite aumentar também a despesa sem violar os limites impostos. Para contornar esse problema, a UEFA promete agora analisar os casos suspeitos e corrigir a verba referente a cada patrocínio encapotado para valores praticados no mercado. Como o fará não se sabe.

Refira-se que, qualquer sanção a aplicar por violação do fair-play financeiro, é decidida caso a caso depois de se avaliarem factores como a evolução das contas nos últimos anos. Se a tendência for no sentido do equilíbrio, com prejuízos cada vez menores, não haverá lugar punições pesadas. Benfica, Sporting e FC Porto apresentaram resultados positivos na última época e parecem no bom caminho. 

rui.antunes@sol.pt