Paulo Bento, um desfecho previsível

Paulo Bento é um homem de convicções fortes. Onde muitos vêem teimosia, noto uma preocupação forte, quase obsessiva, em criar um grupo coeso e unido. É um factor com uma preponderância extrema na alta competição. Por isso a necessidade de manter um núcleo duro. Só assim se criam laços. Scolari fez o mesmo. Quem está…

Mas Paulo Bento tem um problema: mede o profissionalismo dos pupilos às suas ordens pelo que teve enquanto jogador – e foi total. É uma fasquia demasiado alta: não há muitos à sua imagem nos dias que correm.  

Duvido que algum dia mude. Mas isso traz-lhe anticorpos que, nas horas dos maus resultados, aguçam as críticas. O homem que dirigiu a Selecção nos últimos anos é demasiado sério. E com essa atitude tem maior dificuldade em estabelecer empatia com o grande público. Os últimos jogos, com exibições desastrosas e opções duvidosas, deixaram-no num beco sem saída.

A personalidade de Paulo Bento teve um peso decisivo na sua passagem pela equipa das quinas – e também no desfecho desta ligação contratual à Federação Portuguesa de Futebol. Fiel a um grupo de jogadores, não foi capaz de os abandonar. Nem mesmo depois de um péssimo Mundial.

Não alinho nas teses que colocam o dedo do empresário Jorge Mendes nas convocatórias. Paulo Bento acreditou até ao fim que aqueles indefectíveis ainda lhe podiam dar aquilo que já não podiam. João Pereira, Ricardo Costa, Miguel Veloso, Raul Meireles, que foram chamados para a Albânia, ou Hélder Postiga e Hugo Almeida, presentes no Mundial, já deixaram para trás os seus melhores anos. É o que o seu rendimento nos diz, pelo menos.

Era tempo de tentar algo novo. Mais ousado. O jogo com a Albânia demonstrou-o. Mas Paulo Bento insistiu.

Compreendo por que o fez. Além do perigo de uma renovação total de uma só vez, o seleccionador continua a ver mais qualidade nos que chamou. E, na maioria dos casos, quem garantir categoricamente que ele está errado não pode estar a falar a sério.

A grande verdade é esta: as alternativas escasseiam. Seja por falta de aposta dos principais clubes portugueses (com excepção do Sporting), seja por défice de talento. As grandes ligas, que nos últimos anos alimentaram o onze titular da Selecção, quase não têm jogadores portugueses em destaque hoje em dia. O próprio Cristiano Ronaldo não sabe o que o futuro lhe reserva, por conta de um joelho sobrecarregado.

Era este o dilema de Bento: revolucionar ou ser mais conservador? Preferiu a segunda hipótese. A primeira teria sido mais popular – mas o agora ex-seleccionador dá pouca importância ao facto. Nada disto apaga, ainda assim, outra realidade: com as opções que existem, Portugal tem obrigação de fazer bem melhor. Paulo Bento não conseguiu.

O senhor que se segue terá forçosamente de seguir a via da renovação. Injectar sangue fresco. E dificilmente poderá correr pior com gente nova. Mas é bom que os portugueses se preparem: com os jogadores que jogam regularmente, por cá ou no estrangeiro, a Selecção actual não está para grandes feitos.

rui.antunes@sol.pt