Hoje director da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres – depois de ter passado por cargos nas Nações Unidas e no programa da ONU para a sida, o UNAIDS – Piot dirigiu-se directamente ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, para que duplique os esforços realizados até agora. “Estou muito pessimista quanto ao controlo da doença”, explicou ao diário The Guardian. “Uma coisa é isolarmos pacientes ou pôr uma pequena aldeia de quarentena; outra é quando há países inteiros afectados”. Para o especialista, o que é necessário agora é decretar “um estado de emergência ou algo como uma intervenção quase militar”. E sublinha que “exagerar cenários não é o meu estilo”.
Piot, que investigou o vírus no então Zaire (hoje R.D. do Congo) há 38 anos, referia-se ao modo como as epidemias anteriores, confinadas a pequenas comunidades rurais, foram relativamente fáceis de conter – apesar dos milhares de mortos – através de quarentenas. Agora a situação é muito mais grave do que nos anos 70 e 80. Por isso, Piot pede directamente a Cameron que disponibilize 100 médicos e enfermeiros do SNS britânico só para a Serra Leoa e para a Libéria e apela às companhias aéreas que interromperam as suas rotas para a região que as retomem. “O controlo dos passageiros pode ser feito facilmente antes do embarque”, defende Piot, que classifica a situação como uma catástrofe que só tenderá a piorar se as ‘megacidades’ nigerianas, como Lagos, por exemplo, continuarem a ser afectadas. “Uma das razões para a situação estar fora de controlo é devido à resposta lenta da comunidade internacional, à excepção dos Médicos Sem Fronteiras”, conclui.