Democracia líbia num ferry

Os deputados do Parlamento líbio – 115 de 200 -, mais as suas famílias, tiveram de se mudar para um ferry grego em Tobruk, perto da fronteira com o Egipto e a 1.500 quilómetros da capital Trípoli. A pequena cidade portuária é agora o último pilar do frágil Estado da Líbia.

Democracia líbia num ferry

“Tivemos apenas três dias para preparar tudo aqui em Tobruk, para encontrar locais para as reuniões, acesso à internet, tudo”, disse ao Guardian Muftah Othman, chefe da comissão eleitoral de Tobruk.

As milícias islamistas já controlam Trípoli, Derna e Misrata. Bengazi, a segunda maior cidade do país, está prestes a ser conquistada pelos extremistas, também apoiados pelo grupo Ansar al-Sharia (acusado de ter assassinado o embaixador dos EUA e mais três norte-americanos, em 2012, num ataque às instalações diplomáticas).

Face à inacção dos países ocidentais que levaram à queda do ditador Kadhafi, e perante o vazio e o caos, os Emirados Árabes Unidos e o vizinho Egipto apoiam os nacionalistas contra as milícias islamistas financiadas pelo Qatar.

Em Trípoli, as milícias controlam os ministérios, mas os funcionários ignoraram as ordens para irem trabalhar. Não há ninguém a decidir. “Temos ministérios sem ministros, ninguém manda, não há orçamento”, disse à AP Abel Sunallah, assessor do Ministério da Cultura.

As exportações de petróleo caíram drasticamente. As receitas foram congeladas pelo Banco Central, que espera que os tribunais decidam quem tem a legitimidade governamental. O novo primeiro-ministro líbio foi nomeado em Março mas ainda não conseguiu formar Governo.

“Este país está farto de conflitos e todas as partes já perceberam que a única solução é negociar”, afirmou o enviado da ONU, Bernardino León, depois da visita à nova sede do Parlamento líbio em Tobruk.

miguel.mancio@sol.pt