A oferta anunciada ontem pelo Grupo José de Mello é de 4,4 euros por acção. Representa um investimento total de 420 milhões de euros se a empresa comprar a totalidade das acções no mercado. Se este cenário se concretizar, será criado um gigante privado na saúde.
Entre várias unidades em Portugal, a ES Saúde tem o Hospital da Luz, o maior privado do país, e gere o Hospital de Loures no âmbito de uma parceria público-privada. O grupo José de Mello tem vários hospitais CUF e gere duas unidades em regime de PPP (Braga e Vila Franca de Xira).
Juntos, os dois grupos geram receitas operacionais de cerca de mil milhões de euros. A concentração dos dois maiores operadores do sector, a ser aprovada pelos accionistas da ES Saúde, necessitará do aval da Autoridade da Concorrência (AdC) – além da entidade reguladora do sector e do próprio Governo, já que o negócio abrange PPP. Salvador de Mello, o presidente da subholding José de Mello Saúde, mostrou-se ontem “convicto de que a oferta não cria um problema de concorrência”.
Depois do anúncio preliminar de ontem, o grupo tem agora 20 dias para o registo da operação na Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM). Depois, o Conselho de Administração da ES Saúde terá de pronunciar-se sobre a oferta.
Preço não é o único critério
A ES Saúde já tinha dado um parecer favorável à oferta dos Ángeles formalizada em Agosto, embora indicando que o valor proposto poderia não traduzir a aquisição de uma posição de controlo. O montante agora apresentado pelo Mello é 2,9% superior ao dos mexicanos, mas é expectável que o grupo da América Latina suba a parada – o embaixador mexicano em Portugal já tinha dado nota dessa possibilidade, numa entrevista ao Económico.
E não é líquido que as ofertas terminem por aqui. Vasco de Mello, o presidente do Grupo Mello, disse ontem que a empresa irá “olhar e actuar de forma adequada” se os mexicanos melhorarem a oferta ou se surgirem mais OPA concorrentes.
O grupo americano Amil e a seguradora Fidelidade, que foi vendida pela Caixa Geral de Depósitos aos chineses da Fosun, estão entre os potenciais interessados.
O preço não será o único factor em análise das propostas, pela administração da ES Saúde. A situação financeira dos grupos será comparada, tal como o tempo necessário a concretizar a operação. A proposta dos mexicanos, por exemplo, não implica a análise da AdC e pode ser mais rápida.
A própria estratégia da oferta será ponderada. Os mexicanos, por exemplo, deixaram claro que a estratégia da ES Saúde é para continuar, tal como a equipa liderada por Isabel Vaz, a presidente executiva. Já a OPA concorrente da José de Mello é omissa quanto a estes pontos.
O documento enviado ontem à CMVM refere apenas que a conjugação das empresas permitirá “melhorias operacionais” e aumentar a “qualidade clínica”. Quanto a outros “termos concretos”, a empresa assume que “não se encontram ainda determinados”.