As divergências entre Cavaco e Passos

A propósito da última troca azeda e pública de opiniões entre o Presidente Cavaco Silva e o primeiro-ministro Passos Coelho, a propósito do engano aos investidores no caso BES, alguns comentadores deduzem estar a verificar-se um novo afastamento entre os dois. Não estou de acordo, porque acho que sempre estiveram afastados, mas ambos sabem que…

As divergências entre Cavaco e Passos

Porque em política, como dizia Churchill, podemos ter o verdadeiro e mais desprezível inimigo no nosso partido, e no opositor apenas respeitáveis adversários (do ponto de vista de cada um) – mas o jogo politico exige nunca esquecer os adversários, por causa dos inimigos que desprezamos no nosso partido.

Recordemos outras situações em que Cavaco e Passos se destemperaram em acusações públicas mútuas: os cortes de subsídios a funcionários públicos e pensionistas, no OE de 2012, foram classificados pelo Presidente Cavaco de ‘violação de um princípio básico de equidade fiscal’; em Janeiro de 2012, foi a denúncia do corte das pensões, em que Cavaco talvez se tenha posto a jeito para receber admoestação de Passos e acusações de quase toda a gente, ao focar o seu caso pessoal; na mensagem de Ano Novo de 2013, Cavaco advertiu para a ‘espiral recessiva’ negada pelo Governo (e que não deixou de existir, por o BCE ajudar a ultrapassá-la, porque bastam uns quantos trimestres seguidos de comprovada recessão para se usar aquela expressão).

Portanto, em apenas 3 anos de convivência, houve pelo menos 4 grandes desentendimentos, de enorme repercussão pública. Mas quando se trata de enfrentar o PS, ambos recolhem as armas, e se juntam. A Cavaco, basta deixar testemunho público da falta de apreço pessoal e político que Passos lhe merece, enquanto este, aparentemente por feitio, nunca deixou de gostar de contra-atacar. Mas não passam disso.