O ‘Não’ da Escócia à independência é um alívio para os mercados

Os escoceses chumbaram em referendo, esta quinta-feira, a proposta independentista. O resultado oficial revela que 55,4% dos eleitores votaram ‘Não’ e apenas 44,6 disseram ‘Sim’ à saída do Reino Unido.

O ‘Não’ da Escócia à independência é um alívio para os mercados

De acordo com dados preliminares anunciados esta manhã, e com os votos contados em 31 das 32 circunscrições escocesas, estão somados 1.539.920 escrutínios favoráveis à separação e 1.914.187 contrários à proposta.

Olhando para o mapa escocês, o resultado é inequívoco. Os independentistas triunfaram em apenas quatro circunscrições – Glasgow (a maior cidade), West Dubartonshire, Dundee (com a vitória mais dilatada, 57%) e North Lanarkshire.

Londres já se congratulou pelo triunfo unionista. “O povo escocês falou e o resultado é claro. Decidiram manter unido o nosso país de quatro nações e milhões de pessoas como eu estão muito felizes”, disse o primeiro-ministro David Cameron, esta sexta-feira, à porta do número 10 de Downing Street, em Londres.

O conservador afirma que a questão independentista ficou “resolvida por uma geração, ou, como disse Alex Salmond, talvez por uma vida inteira”.

Salmond, o primeiro-ministro escocês que batalhou pelo ‘Sim’, concedeu a derrota cerca das 6h da manhã: “A Escócia decidiu dizer ‘Não’, de momento, à independência e garantiu que permanecerá parte integrante do Reino Unido”.

“Apelo a que toda a Escócia aceite a vontade democrática do seu povo”, afirmou o governante autónomo, que elogiou a elevada participação no referendo (pelo 86% dos eleitores votaram) e criticou a campanha de “medo” dos unionistas.

Reforma constitucional em curso

No entanto, e como declarou esta manhã o vice-primeiro-ministro liberal-democrata do Reino Unido, Nick Clegg, os britânicos entram agora num "novo capítulo constitucional". Como prometido, David Cameron confirmou que serão reforçados os poderes do parlamento escocês.

O primeiro-ministro afirmou ainda que a própria Inglaterra deverá agora ver aumentada a autonomia, propondo que os parlamentares ingleses em Westminster ganhem poder no debate de questões legislativas exclusivamente relativas ao principal país constituinte do Reino Unido.

"Vamos construir um país melhor", desafiou o líder conservador.

Alívio nos mercados e na Europa

A Escócia conserva assim uma união de 307 anos com a Inglaterra, o País de Gales e a Irlanda do Norte.

O resultado do referendo tem repercussões além-fronteiras. Respira-se de alívio agora em Madrid, Paris, Bruxelas, Roma e outras capitais europeias que lidam com as pretensões separatistas de algumas regiões, com a Catalunha à cabeça, que realiza um referendo à autodeterminação a 9 de Novembro. A consulta não é considerada legal pelo governo central espanhol.

Nos mercados, as reacções são positivas. A libra valorizou quase 1% em relação ao dólar logo após o anúncio dos resultados. Os mercados asiáticos estavam a subir e as praças europeias abriram em alta. O Royal Bank of Scotland, o maior banco escocês, anunciou que não irá avançar com a mudança da sua sede para Londres, o que chegou a ser publicamente equacionado perante a possibilidade de uma vitória do 'Sim'.

pedro.guerreiro@sol.pt