Ser ‘especialista em política internacional’ não é nada, pois não é possível uma ‘especialização’ em áreas tão diferentes, com problemas tão diferentes, com povos tão diferentes. Ser especialista em política portuguesa já não é fácil. Imagine-se o que será ser especialista em todos os países do mundo…
Faço este alerta para exprimir uma opinião ao completo arrepio das que têm sido dadas por inúmeros ‘especialistas’. A ideia é esta: que problema traria à Europa a independência da Escócia? Percebo que alteraria o equilíbrio de forças no Reino Unido, que mexeria com o orgulho inglês – mas o que mudaria na União Europeia?
Mesmo que isso estimulasse outras independências, qual seria o problema? Que mudaria na Europa, por exemplo, se a Catalunha se tornasse independente? Em vez de haver uma Espanha una, haveria uma Espanha e uma Catalunha.
Não percebo bem o drama que se criou em toda a Europa à volta desta questão. Aliás, vejo com simpatia a independência de algumas regiões que têm grande autonomia e até uma língua própria – como é o caso da Catalunha, cuja língua ressuscitou após décadas de repressão e hoje é, de longe, a primeira língua na região.
Falou-se muito da ‘Europa das regiões’. Ora, algumas independências corresponderiam exactamente a esse conceito: tornar certas regiões mais autónomas, o que não significa que se tornassem menos europeias ou menos empenhadas no projecto europeu.
O meu avô paterno contava a seguinte história: "Um mendigo batia à porta das pessoas, dizia ‘Dê-me uma esmola, senão…’, e as pessoas davam. Um dia alguém lembrou-se de lhe perguntar: ‘Senão o quê?’. E o mendigo respondeu: ‘Senão, vou-me embora’".
A independência da Escócia fez-me recordar esta história. Todos os líderes políticos lá foram dizer: "Não votem no ‘Sim’, senão…". Senão — digo eu — não aconteceria nada. O orgulho inglês sairia beliscado, mas para a Europa as consequências seriam mínimas ou inexistentes.
Mas isto digo eu, claro, que não sou ‘especialista em política internacional’.