Prepara-se para mais uma daquelas noites, em que se abandona à sedução e aos prazeres carnais? Pois o prazer carnal sentido à frente pode ser uma grande agonia atrás. Não, não se brinca aqui com as palavras: uma equipa da Universidade de Waterloo, no Canadá, acaba de divulgar os primeiros resultados de um estudo que – finalmente e pela primeira vez, dizem os autores – tenta perceber a relação entre sexo e dores nas costas.
Para muitos, o prazer de um dia pode ser uma catástrofe de várias semanas. E para evitar que se siga o preceito de Woody Allen (“Não despreze a masturbação – é fazer sexo com a pessoa que mais ama”), os especialistas canadianos vão fazer um mapa de quais as melhores posições de acordo com os problemas de coluna de cada um. Para já, os resultados que entraram nas páginas da revista especializada Spine dizem respeito aos homens. As recomendações para as mulheres virão mais tarde, completando um atlas integral para os dois géneros.
Muitos, especialmente os mais novos, a quem a coluna ainda não lhes recorda a idade com veemência, perguntarão: para quê? “Os médicos de família dizem-me que muitos casais lhes perguntam qual é a melhor maneira de prevenir as dores nas costas durante e depois do sexo”, justifica Stuart McGill, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Saúde daquela universidade canadiana, no site oficial do estabelecimento (um resumo do artigo está disponível em uwaterloo.ca/stories/low-back-pain-waterloo-research-reveals-best-sex-positions). “E até agora não dispunham de um guia com recomendações que tivesse uma base científica”.
Exemplos? A crença popular diz que a posição da 'colher' (homem e mulher deitados de lado, em que os movimentos masculinos são feitos com as costas apoiadas) é a melhor para homens com dores nas costas. Ora a equipa de McGill diz não à 'colher' e sim ao estilo 'cão' (a mulher deitada, apoiada em cotovelos e joelhos e o homem atrás, de joelhos), mas não de uma maneira qualquer: os movimentos masculinos devem ser feitos por impulsão das coxas e não da base da coluna…
Parece complicado, mas é simples. A tal base científica de que McGill falava foi garantida pela tecnologia. A equipa de Waterloo ligou sensores electrónicos ao corpo de vários casais que se dispuseram a perder um pouco da sua privacidade no acto por amor à ciência. E puderam observar, por computador, quais as regiões – ossos e músculos incluídos – que sofrem maior stresse.
A base da coluna é o local mais sensível, e foi o ponto da anatomia masculina privilegiado por McGill em várias demonstrações que a equipa fez em vídeo. As primeiras vértebras logo a seguir ao cóccix – esse pequeno e inaudito osso, resquício da nossa evolução, do tempo em que éramos seres com cauda – sofrem com a pressão exercida pelo movimento. Devem, por isso, ser evitados.
O estudo tentou, ainda, perceber a mecânica do orgasmo masculino. E descortinou quais os músculos que mais trabalham durante a fase de clímax. Mas descobriu também algo mais surpreendente: “Muitos dos pacientes que têm habitualmente dores de costas disseram-nos que experimentam níveis elevados de dor durante o orgasmo, ao ponto de o evitarem quando estão a ter relações sexuais”, constata Natalie Sidorkewicz, estudante de doutoramento e autora principal do artigo.
Há quem possa esperar, portanto, avidamente pelo atlas. Enquanto isso, podem fazer uma de três coisas: dedicar-se a não ligar à dor nas costas que nos pode assolar durante semanas, decidir-se pela abstinência, a “mais perigosa de todas as perversões sexuais”, segundo George Bernard Shaw, ou levar para a cabeceira os anticoncepcionais acompanhados de um Voltaren. Se conseguirem superar a dor através dos sábios conselhos da equipa de Waterloo podem, finalmente, citar Woody Allen outra vez: “Por que lavar os dentes quatro vezes por dia e fazer sexo duas vezes por semana? Por que não o contrário?”.