"Temos todo um sistema de ensino que deveria alimentar as ideias da Revolução Francesa – liberdade, fraternidade e igualdade – e temos a falência, não das ideias, que filosoficamente continuam a ser muito válidas, mas dos modelos de educação, seja a família, seja a escola, que claramente não conseguem passar estes princípios", considerou Paulo Mendes Pinto.
O especialista em ciência das religiões falava à agência Lusa a propósito da realização, em Portugal, em Maio, do I Congresso Lusófono de Ciência das Religiões, um evento científico que quer aprofundar o olhar académico sobre o fenómeno religioso na sociedade.
"Os jovens, perante os desalentos que a Europa lhes dá – desemprego, falta de valores, corrupção, luta cega por riqueza -, optam por um modelo diferente", adiantou.
"É um fenómeno completamente inesperado para o ego da Europa ver muitos dos seus jovens a aderirem a este radicalismo islâmico", disse, sublinhando que é também consequência da forma "completamente inconsciente" como o ocidente lidou com aquela região.
"O que temos hoje no Iraque e na Síria é consequência da forma completamente inconsciente com que nas últimas duas dezenas de anos os governos europeus e americanos lidaram com aquela zona do globo. Apoiaram-se ditadores, retiram-se ditadores e a única coisa que fizemos foi lançar aquela zona no caos", sustentou.
O director do departamento de ciência das religiões da Universidade Lusófona alertou também para os radicalismos na Europa.
"Devemos pensar [sobre] o que é que a nossa sociedade tem que faz com que, quando pensávamos que vivíamos em regimes onde a liberdade nos tinha vacinado de radicalismos, acontece exactamente o contrário. Estamos a ver na Europa os radicalismos, em especial os da extrema-direita, a crescer de uma forma brutal, pondo em causa o próprio funcionamento democrático", disse.
O Estado Islâmico, grupo radical que controla partes da Síria e do Iraque, aspira a constituir um califado, liderado por um único líder religioso e político e governado sob a lei islâmica, a Sharia.
O movimento usa tácticas terroristas – assassínios em massa, sequestros e perseguições a membros de minorias étnicas e religiosas e decapitações de soldados e jornalistas.
Nos últimos meses, a comunicação social têm dado conta da adesão de jovens europeus, incluindo vários portugueses, a este movimento, que enfrenta actualmente uma acção militar norte-americana.
Lusa/SOL