Pedro Santana Lopes: candidato do PSD à Câmara de Lisboa?

Pedro Santana Lopes continua muito activo nos seus vários desdobramentos na comunicação social. Há duas semanas, Santana Lopes deu uma entrevista muito curiosa à Visão: curiosa pelo timing, pelo interesse jornalístico e pelo seu conteúdo. Pelo timing, pois foi na mesma edição da Visão que tinha como manchete “ a face oculta do PSD”. Pelo…

Santana Lopes deixou a ideia de que pretende, de facto, ser candidato do PSD à Câmara Municipal de Lisboa. Na entrevista, Lopes falou sobre a sua experiência na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, dos problemas sociais que tem resolvido em Lisboa – afirmando que esta sua experiência o levou a conhecer ainda melhor a cidade de Lisboa. Mais: avançou um conjunto de projectos que gostaria de levar adiante em Lisboa para melhorar a vida dos lisboetas, sobretudo dos mais idosos, jovens e crianças. Bem. E muito certeiro nas críticas a António Costa, a quem Santana Lopes, nas entrelinhas, atribuiu o epíteto de pior Presidente de Lisboa de todos os tempos. Pois bem, julgo que neste momento, Pedro Santana Lopes é o nome mais forte do PSD para Lisboa. Pelo seu conhecimento da cidade, pela sua experiência anterior e pelo seu “improvement”  pela passagem pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Qual é o grande adversário de Santana Lopes? É o próprio Santana Lopes. Esta nossa figura da política portuguesa, peca pela sua instabilidade, pelo seu desejo de vingança constante pelo que sucedeu em 2004, esquecendo-se de um pormenor: o que aconteceu em 2004 foi culpa, quase exclusiva, do próprio Santana Lopes. Da equipa que escolheu, da sua incapacidade de liderar uma equipa governamental,  das confusões que foi criando. Um exemplo da instabilidade emocional de Santana Lopes foi o seu comentário ontem na CMTV. Instabilidade que se traduz em incoerências.

De facto, Lopes fez um análise lúcida do que sucedeu no PS e da vitória de Costa. Fez uma análise certeira sobre as “companhias” do António Costa, muito próxima do que aqui escrevemos ontem no SOL. Contudo, Santana Lopes optou por misturar a análise de Costa com…a análise da liderança de Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes e Passos Coelho! Num tom que parecia o de um militante do Bloco de Esquerda! Só faltou chamar corruptos a todos os militantes do PSD!

E porquê? Porque, segundo a teoria de Santana Lopes, os problemas do PSD começaram com a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa – e depois agravaram-se (imagine-se com quem?) com Marques Mendes! E que Passos Coelho é um peão de Marques Mendes! Passos Coelho, para Santana Lopes, é um coitadinho, uma marioneta comandada por Marques Mendes e pelo seu grupo próximo! Destacou aqui Vasco Rato (que é Presidente da FLAD, porque é próximo de Marques Mendes); Paula Teixeira da Cruz (Ministra da Justiça, porque próxima de Marques Mendes); Miguel Macedo (Administração Interna, porque próximo de Marques Mendes).

Ou seja, o PSD é um partido, para Santana Lopes, dominado por um grupo pequeno de pessoas que nunca largam a política – e que se protegem mutuamente. E que andam há anos a saltar de lugar em lugar!

Ora, confessamos que foi o melhor programa de comédia a que assistimos desde há muito tempo. Ontem, no sofá, não parámos de rir: é que se há figura política que nunca abandonou a política, que andou a saltitar de lugar em lugar, essa personagem chama-se Pedro Santana Lopes! Da Figueira da Foz para Lisboa, de Lisboa para São Bento, de São Bento para Lisboa outra vez, de Lisboa outra vez para Lisboa outra vez outra vez, de Lisboa outra vez outra vez para avanças como jurista na EDP, da EDP para a Santa Casa da Misericórdia! É preciso muito descaramento! Ontem, nos mapas de Santana Lopes, nas suas folhinhas que mostrou as caras do PSD, faltava lá uma, a principal: a dele. A cara de Santana Lopes: a única que provava a sua tese como verdadeira.

Todos sabemos a razão pela qual Santana ataca Marcelo e Mendes: o primeiro é o candidato presidencial mais forte – o segundo é a segunda opção do PSD. E Santana já é uma carta fora do baralho: depois de chamar corrupto, marioneta a Passos Coelho e implicitamente aos militantes do PSD, Santana mostrou que não tem dimensão para cargos nacionais. Santana é movido por um desejo de vingança contra o seu partido e continua sem capacidade de auto-reflexão sobre os seus erros próprios. Enfim…

De segunda a sexta-feira, João Lemos Esteves assina uma coluna de opinião no SOL

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