Joshua Wong é demasiado novo para poder legalmente comprar álcool ou conduzir – muito menos votar – e mesmo assim é o rosto dos protestos pró-democracia em Hong Kong. E uma inspiração para cidadãos com o triplo da sua idade.
Há dois anos, com apenas 15, Joshua e alguns amigos criaram um grupo chamado Scholarism (aí liderou uma manifestação com mais de 120 mil pessoas). O objectivo era poder dar aos estudantes uma voz política no projecto educacional no país e, foi depois de uma série de protestos, greves de fome e uma invasão de um prédio do governo que levou Hong Kong a voltar atrás na proposta.
Agora, encabeça um dos movimentos políticos mais significantes desde o massacre na Praça de Tiananmen, em 1989. A indignação dos jovens transformou-se numa imensa mobilização estudantil – e nasceu a revolução dos guarda-chuvas, utilizados pelos manifestantes para se protegem contra os sprays-pimenta da polícia.
Jerome Favre/EPA
A China chama “extremista” a Joshua, por causa da sua participação nos protestos estudantis que invadiram na última semana as ruas desta ex-colónia britânica devolvida à China em 1997 e hoje uma região autónoma com alguns direitos, como liberdade de expressão e eleições locais.
O que ele e muitos criticam (e são contra) é a actuação do governo chinês, que tenta minar algumas das autonomias obtidas quando o poder foi transferido.
As manifestações têm como objectivo exigir autonomia nas eleições para o próximo chefe do Executivo local, que devem acontecer em 2017. Mas Pequim não parece muito interessada nisso e insiste em nomear os candidatos que depois irão a votos.
“Acho que um sufrágio verdadeiro não existirá sem uma desobediência civil”, disse Joshua ao South China Morning Post.
É este tipo de posições políticas que tornaram Wong um “extremista” aos olhos da imprensa chinesa, enquanto os jornais pró-Pequim em Hong Kong acusam-no de estar a ser manipulado pelo governo dos EUA, e o vêem desde há três anos como um “político superstar”.
Considerado uma ameaça à segurança pelo Partido Comunista, foi preso na sexta-feira (juntamente com 77 pessoas) e solto no domingo, de acordo com fontes policiais. A polícia entrou no seu quarto na Universidade e confiscou várias coisas, incluindo o seu computador e telefone, segundo contaram vários organizadores do protesto.
Ao sair da prisão, Joshua, cansado e apresentando alguns ferimentos, prometeu não baixar os braços. “O povo não devia ter medo do governo. O governo é que deve ter medo do povo”, disse, citando o filme V de Vingança.
“O herói deste movimento é cada um dos cidadãos de Hong Kong”, escreveu no Facebook.
Movimento Occupy Central Alex Hofford/EPA
SOL