Através de denúncias e de um inquérito, a associação de defesa do ambiente diz ter obtido "um retrato superficial, mas preocupante" e apela às entidades competentes para que façam uma operação para "passar a pente fino todas as grandes superfícies, para saber a quem exactamente estão a entregar [os produtos] e se os operadores de SPOA [subprodutos de origem animal] estão em condições de receber esses materiais".
Pedro Carteiro, da Quercus, afirmou à agência Lusa que "não existe uma hierarquia presente para a gestão dos produtos de origem animal, se existisse era mais fácil encaminhar" para os operadores licenciados.
"Consideramos francamente que não existe um controlo por parte das entidades oficiais em relação aos produtores de SPOA, grandes superfícies comerciais e os respectivos operadores, que depois encaminham para os vários destinos possíveis, nomeadamente para ração animal, para entrar na cadeia alimentar humana", salientou o ambientalista.
"Existindo uma má gestão, nomeadamente mistura de materiais que não sofreram controlo veterinário, ou as próprias embalagens, que não são adequadamente geridas, pode haver risco para a saúde pública", alertou.
Uma das entidades que receberam o relatório da Quercus realizado a partir do inquérito, foi a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) que confirmou à associação ter instaurado 20 processos de natureza contra-ordenacional, neste âmbito.
"A ASAE foi a primeira a responder e deu-nos alguma tranquilidade porque estão despertos para o tema e apelamos para que faça uma acção concertada a todas as grandes superfícies comerciais e operadores", realçou Pedro Carteiro.
A legislação obriga a que todos os produtos que contenham derivados animais quando classificados como SPOA, por exemplo, materiais fora de prazo ou restos de talho e peixaria, devam ser recolhidos selectivamente, e conduzidos a um tratamento específico consoante a sua classificação, podendo ir para incineração ou aterro, quando apresentam grande risco para a saúde pública.
Estes produtos podem ser restos do talho ou carne embalada, mas também materiais menos evidentes, como os enlatados de salsicha ou os bolos que contêm ovos.
Em alguns casos, explicou, estes subprodutos "podem ser misturados com outros resíduos que não são adequados, como os materiais de categoria um, falamos, por exemplo, de animais mortos em estrada, como cães, como aconteceu em Espanha, que podem ter doenças que podem migrar para a farinha e para as pessoas que venham a consumir" os animais assim alimentados.
O ambientalista lembrou que "foi assim que surgiu a chamada doença das vacas loucas".
Lusa/SOL