"O que torna a Europa diferente dos outros continentes? Igualdade, liberdade, fraternidade", referiu o autor de "Os Jardins da Memória", prémio Nobel da Literatura em 2006 e que hoje recebeu o Prémio europeu Helena Vaz da Silva para a divulgação do património cultural.
"A rica herança cultural da Europa não é apenas acerca de preservar a arquitectura ou todo o género de instituições culturais, mas também acerca dos seus valores fundamentais. Temos de discutir mais estes valores fundamentais. Para mim, preservar a herança europeia é também o envolvimento numa séria discussão de todos estes valores", assinalou na sua intervenção numa sessão na Gulbenkian e perante uma plateia em que se destacavam Maria Cavaco Silva, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, ou o presidente da Comissão Europeia cessante, José Manuel Durão Barroso.
Pamuk, que numa comunicação em inglês destacou o seu Museu da Inocência, que ergueu em Istambul para contrariar os museus tradicionais que "ainda representam o poder, as grandes instituições" e complementa o seu romance com título idêntico que descreve "pessoas normais na vida do dia a dia", recebeu a segunda edição do galardão, instituído em 2013 pelo Centro Nacional de Cultura (CNC), em cooperação com a instituição Europa Nostra e o Clube Português de Imprensa.
Antes, foram homenageados os dois galardoados com o prémio da União Europeia para o património cultural /Europa Nostra 2014.
Na categoria Conservação, foi eleito o projecto Recuperação da Rota Histórica das Linhas de Torres, da Associação para o desenvolvimento turístico e patrimonial das Linhas de Torres Vedras, com os agradecimentos a cargo de Ana Umbelino.
No vector Educação, formação e sensibilidade, venceu o programa de rádio semanal, emitido pela TSF, "Encontros com o património", e na presença de Manuel Lacerda, da direcção-geral do património cultural, e do jornalista e autor do programa, Manuel Vilas Boas.
Na segunda parte do programa, na qual Ohran Pamuk foi contemplado, destaque para as presenças e intervenções de Dinis de Abreu, presidente do Conselho Português de Imprensa, Guilherme d'Oliveira Martins — que na apresentação do escritor turco o definiu como "o cultor da confluência entre a Arte e a Memória", numa obra literária onde "há um amor que chega à essência da relação humana" –, para além do administrador da Gulbenkian, Artur Santos Silva.
Na sessão foram ainda homenageados com um Prémio especial o professor e historiador de Arte José-Augusto França, que não pôde estar presente, e o jornalista holandês Pieter Steinz, que recebeu a menção especial do júri pelo seu recente livro em torno dos ícones culturais europeus.
A importância do património cultural europeu foi um das ideias que sobressaiu na intervenção de Durão Barroso, que encerrou a cerimónia, e após ter visitado no início da semana em Istambul o Museu da Inocência, "guiado" pelo próprio Pamuk.
"É um novo tipo de museu, o museu das coisas normais, e não dos reis, dos príncipes, dos poderosos…", assinalou. Um projecto que, afinal, reflecte o quotidiano de Istambul na segunda metade do século XX.
O património cultural como "tesouro valioso", a noção de "diversidade da identidade europeia", de uma "identidade de muitas identidades" foram temas que também destacou.
"Principalmente quando em muitas partes da Europa se ouvem discursos nacionalistas e extremistas, discursos com carácter identitário muitas vezes agressivo (…) é necessário dizer que não é dessa identidade que nós falamos quando falamos de identidade cultural", frisou Durão Barroso.
Em final de mandato após dez anos à frente da Comissão Europeia, o ex-primeiro-ministro português também recordou a importância do aumento dos orçamentos europeus nas áreas cultural e científica "apesar do momento financeiro difícil", antes de abordar o que definiu como a "grande questão", quase em fim de intervenção.
"O projecto europeu não é apenas das instituições, mas de todos. Não podemos falar da União Europeia como se de uma potência europeia de tratasse", disse.
"É necessário um sentido de aproximação da Europa, como algo que nós construímos", concluiu.
Lusa/SOL