1. Carta de funcionário do Santander contra a reeleição de Dilma
Julho. A campanha eleitoral dava os primeiros passos quando a imprensa revela uma carta enviada por um funcionário do Santander Brasil aos clientes do banco com uma renda mensal superior a 10 mil Reais, através da qual afirmava que a reeleição de Dilma Rousseff seria uma ameaça para a economia do país. Quatro funcionários do banco foram demitidos e Emilio Botín, presidente da instituição (que viria a falecer em Setembro), clarificou que não se se tratava da opinião do banco mas a de “um analista”. O caso ganhou repercussão na imprensa e a Presidente do Brasil considerou o episódio “lamentável e inadmissível”, exigindo um pedido de desculpas. Aécio Neves, candidato do PSDB, rebateu a sua adversária por considerar que o comunicado do banco não era uma interferência político-eleitoral, como afirmara Dilma.
2. Depois do helicóptero com cocaína, o aeroporto de Aécio Neves
Julho. A primeira denuncia de corrupção em pré-campanha. A Folha de São Paulo noticia que o governo de Minas Gerais gastou quase 14 milhões de Reais para construir um aeroporto para receber aeronaves de pequeno e médio porte numa fazenda de um tio-avô de Aécio Neves, no final do seu segundo mandato como governador daquele estado. O aeroporto, em Cláudio, terá ficado pronto em 2010 e será administrado por familiares do candidato PSB. Aécio reagiu e disse que a obra era uma “exigência da comunidade local”. O escândalo viria a ser uma arma para os adversários políticos. “Lamento que o candidato Aécio Neves fala uma coisa desse tipo (que o PT instrumentalizou a Petrobras), porque eu tenho a certeza que ele deveria antes responder sobre a questão do aeroporto”, desafiou Dilma. Em Novembro de 2013 o nome de Aécio surgia associado à apreensão, em Cláudio, de um helicóptero, propriedade de um aliado de Aécio, que transportava 500 Kg da cocaína.
3. Dilma e Lula divergem?
Agosto. A candidata do PT fazia os seus primeiros comícios pelo país. Lula da Silva era a grande e notada ausência. Alguns blogues ligados ao PT sugeriam divergências entre os dois. O alegado desentendimento ganha relevância quando os jornais noticiam que o ex-Presidente do Brasil não estaria a participar tanto quanto queria nas reuniões de coordenação da campanha para a reeleição. Dilma, segundo a imprensa, estaria resistente a ter Lula como âncora na sua campanha e estava investir na construção da sua própria imagem, sem o seu padrinho político. No dia 19 de Agosto, porém, Lula é figura central no programa eleitoral gratuito (tempos de antena) de Dilma Rousseff e a partir daí intensifica a sua agenda pública de apoio à sua candidata, aparecendo em comícios ao seu lado ou sozinho mas sempre a defender a mulher a quem confiou a liderança do país em 2010.
4. Jacto com Eduardo Campos a bordo cai em Santos
Agosto. O dia 13 de Agosto de 2014 fica para história da política brasileira. Eduardo Campos seguia a bordo de um pequeno jacto que se despenhou pelas 10 horas em Santos, no litoral de São Paulo, onde o então candidato do PSB iria participar numa acção de campanha. Os sete passageiros que seguiam a bordo (piloto, que tinha cidadania portuguesa, como noticiou o SOL, co-piloto, dois assessores do candidato e dois elementos da equipa de reportagem audiovisual) morreram. Dilma Rousseff e Aécio Neves suspenderam a campanha. Foi decretado três dias de luto nacional. Marina Silva, que ainda se chegou a pensar que estaria a bordo, apareceu ao final da tarde para dar conta da trágica notícia. Disse que foi “providência divina” não estar abordo da pequena aeronave. As causas do acidente aéreo estão a ser investigadas. O funeral do ex-governador de Pernambuco realizou-se no dia 17 e juntou família, representantes do Estado, entre eles Dilma Rousseff, candidatos, como Aécio Neves, e 100 mil populares, segundo a imprensa.
5. Marina Silva anunciada como candidata
Agosto. Três dias depois do funeral do candidato presidencial, Marina Silva, até então candidata a vice, é apresentada como substituta de Eduardo Campos. A cúpula do PSB, o maior partido da coligação ‘Unidos pelo Brasil’ (PSB, PPS, PPL, PRP, PHS), esteve reunida em Brasília para aprovar o nome. Beto Albuquerque, deputado federal, é também anunciado como candidato a vice na mesma lista. O anúncio de que Marina Silva iria ocupar o lugar de Campos (solução apoiada pela família do ex-governador) obrigou os seus adversários, sobretudo Dilma e Aécio, a reverem a estratégia. À data da morte, Campos tinha pouco mais do que 10% nas intenções de voto. No dia 18 de Agosto, e ainda sem estar formalmente apresentada, a ex-senadora e ex-ministra das Minas e Energia de Lula da Silva somava 21% das invenções de voto dos brasileiros. Até aqui, a existir segundo turno seria entre Dilma e Aécio. Mas a entrada de Marina acabaria por provocar o primeiro twist da campanha.
6. PSB apresenta programa e Marina é obrigada ao recusar na questão gay
Agosto. No dia 29 Marina Silva apresenta o seu programa de governo. Foi a única candidata às eleições de hoje que o fez mas isso não lhe valeu menos ataques. Pelo contrário. Foi acusada de voltar com a palavra atrás após ter retirado a referência à ‘energia nuclear’ como uma das matrizes energéticas dos país que merecem aperfeiçoamento. Mas o que terá causado mais danos foi o recuo, em menos de 24 horas depois da apresentação do programa, no apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à criminalização da homofobia, duas propostas que constavam no seu programa. Silas Malafaias, influente pastor da Assembleia de Deus, da qual Marina é seguidora, elogiou o recuo da evangelista depois de ter anunciado no Twitter que retiraria lhe retiraria o apoio se a candidata mantivesse estas dias propostas. Esta semana, Mark Ruffalo, actor norte-americano que havia declarado o seu apoio à ex-senadora, publicou um vídeo através do qual retira o apoio à candidata por ter descoberto que Marina Silva é contra o casamento gay.
7. Novo escândalo na Petrobras envolve Dilma Rousseff
Setembro. No dia 10 a Veja publica uma reportagem sobre um alegado esquema de corrupção na Petrobras. Paulo Roberto Costa, ex-director da empresa estatal que está preso, confessa na revista que terá terá beneficiado políticos da base aliada dos governos de Lula e de Dilma, dando cobertura a contratos para empreitadas da petrolífera para depois transferir o dinheiro para os envolvidos, entre eles, Edinson Lobão, ministro das Minas e Energias, João Vaccari Neto, secretário nacional das Finanças do Partido dos Trabalhadores (PT), Renan Calheiros, presidente do Senado brasileiro e Eduardo Campos. A notícia entra para a agenda da campanha e Dilma admite estar “surpreendida”. Marina Silva e Aécio Campos não tardaram em aproveitar a revelação para cavalgar na candidata à reeleição.
8. PT desenha estratégia do medo e acusa de Marina Silva de estar ao serviço da banca
Setembro. Nas duas primeiras semanas do mês, Marina Silva mantém a tendência ascendente nas sondagens e em algumas aparecia em empate técnico com Dilma Rousseff. A candidata do PT passou ao ataque e tentou desconstruir Marina Silva, acusando-a de estar ao serviço da banca; de querer acabar com o Bolsa Família que, um programa social que ajuda 50 milhões de pessoas que estavam em situação de extrema pobreza; e de querer acabar com o investimento (10%) do pré-sal do petróleo na Educação. Lula fez o resto: “Governar não é um clube de amigos, é a gente saber com quem vai governar e para quem, qual a orientação económica deste país. Não sei se a companheira Marina leu o programa que fizeram para ela. Se ela leu, significa que não aprendeu nada nas discussões que fizemos que ela estava no partido (PT)”, criticou o ex-Presidente. Dias depois, num comício, Marina Silva daria a resposta num vídeo que acabou por ser um dos momentos mais emotivos da campanha: admitiu que sabe o que é passar fome e que jamais acabaria com os programas sociais.
9. Aécio Neves afinal disputa o segundo lugar
Set./Out.. Com o furacão Marina Silva a perder força, ou seja, a subtrair intenções de voto nas sondagens publicadas nos últimos dias, e a acusar o toque da sua adversária, Aécio Neves revê a sua estratégia e volta à disputa pelo segundo lugar. O candidato do PSDB, que até então parecia conformado com o terceiro lugar – alguns assessores e Fernando Henrique Cardoso, ex-Presidente eleito pelo mesmo partido, sinalizaram apoio dos tucanos a Marina Silva num eventual segundo turno – passa também a atacar Marina Silva e entra numa autêntica contagem de espingardas. Marina Silva, que se apresentou com o objectivo de colocar fim ªa polarização PT/PSDB, já reagiu à polarização indesejada na recta final da campanha: confessou que tem a certeza que estará no segundo turno. Dilma Rousseff, por seu turno, admitiu que tanto lhe faz disputar uma segunda volta, seja com Marina ou com Aécio.
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