O mito está a chegar

Se o espectáculo vai mesmo acontecer, só esta segunda-feira, dia 6, é que teremos a certeza. Nos últimos tempos são recorrentes os cancelamentos de Morrissey, tendo os portugueses sido vítimas de semelhante partida há dois anos, quando tinha presença garantida em Cascais e informou no próprio dia que não subiria ao palco. Os lamentos que…

Demorou a acontecer, mas ao que tudo indica desta vez Lisboa entoará hinos como 'The First of the Gang to Die' e 'You Have Killed Me' (da carreira a solo) ou 'Please, Please, Please Let Me Get What I Want' e 'There is A Light That Never Goes Out' (temas dos Smiths que interpreta sem pudores). As razões são simples: o recinto está praticamente esgotado, o que não aconteceu há dois anos no Hipódromo de Cascais (algo que terá ferido, certamente, o orgulho de Morrissey) e o espectáculo no Coliseu dos Recreios marca o início da digressão do recentemente World Peace Is None of Your Business. 

Esta será a quarta vez que actua no nosso país, depois de dois concertos nos Coliseus de Lisboa e do Porto, em 1999, e da passagem em 2006 pelo festival Paredes de Coura, marcada pela forma abrupta como abandonou o palco, sem encore. Se fosse outro artista seria catalogado de prima donna (que até é) insuportável, mas foi Morrissey, o arrogante que tem tudo para gerar ódio, antes gera amor e devoção. 

São esses afectos que marcarão esta passagem do músico pelo Coliseu, celebrando-se assim o regresso da maior lenda viva, como é considerado por milhões mundo fora. A veneração começou nos anos 80, com os Smiths, e prolongou-se ao longo da a carreira a solo, não abrandando sequer quando lançou alguns álbuns menores na década de 1990. Tudo porque Morrissey sempre enalteceu a ideia de que os fortes são aqueles que não têm problemas em expor as suas fragilidades e que nunca se deixou corromper pela indústria.  

Ainda em Julho, rompeu com a Harvest Records (subsidiária da Universal) três semanas depois de World Peace Is None of Your Business sair porque discordava das decisões do seu director. No ano passado, decidiu não promover a autobiografia, garantindo que seria um grande sucesso, excepto em Inglaterra. Claro que se enganou. O livro tornou-se dos mais vendidos no Reino Unido, com cerca de 35 mil cópias só na primeira semana. E, tal como quis, foi editado pela Penguin Classics, reservada apenas a clássicos da literatura britânica. Mas não é Morrissey um clássico? Claro que sim. E daqueles que nunca envelhecem. 

alexandra.ho@sol.pt