Pacheco Pereira: futuro Ministro de António Costa?

António Costa Sócrates, como se esperava, já goza de um clima de adoração inusitada por parte de uma certa comunicação social. Já se esperava: António Costa, embora seja um político apenas razoável, beneficia de um conjunto de condições objectivas (que não são mérito seu, mas mero fruto do acaso) que fazem com que pareça ser…

No final da semana passada, tivemos mais duas provas de que Costinha goza de um estatuto muito privilegiado em Portugal. Um estatuto único que não está ao alcance de mais nenhum – absolutamente nenhum! – político português.  Primeiro, com o anúncio de que Costinha vai permanecer à frente da Câmara Municipal de Lisboa, mesmo já tendo a sua cabeça exclusivamente na liderança socialista e no embate com Passos Coelho. Segundo, com a situação mais do que ridícula e incompreensível de termos um candidato a Primeiro-Ministro, que já é líder de facto do PS, no papel de ….comentador da SIC NOTÍCIAS!

Comecemos pela manutenção de Costinha na Quadratura do Círculo. É uma chico espertice de primeira de Costa: este sabe que o protagonismo mediático do programa, mesmo que seja apenas mais dois meses, o vai ajudar a cimentar a sua imagem de homem de Estado, com apurada sensibilidade social e desligado dos joguinhos politiqueiros. O seu espaço na SIC NOTÍCIAS fortalece a percepção pública de António Costinha como a voz da Razão – é um verdadeiro tempo de antena que a SIC oferece ao PS de António Costinha contra o Governo do PSD/CDS. Mais: a Quadratura do Círculo, na semana passada, foi muito mais eficaz para a propaganda socialista do que qualquer tempo de antena: Costinha fala, fala, sobre o que lhe apetece, sem contraditório; o único contraditório aventável – protagonizado por Lobo Xavier – é logo esmagado por Costinha e o seu maior admirador: Pacheco Pereira.

Com efeito, Pacheco Pereira tem feito verdadeiras juras de amor eterno a António Costa, em termos que não lhe ficam bem. Entendamo-nos: Pacheco Pereira é uma personalidade política muito inteligente, assertivo, contundente e pertinente nas suas críticas. Nós gostamos de Pacheco Pereira. Contudo, Pacheco Pereira tem-se perdido em elogios, em louvores a Costa, que nem o próprio Costinha consegue subscrever! Pacheco é tão exagerado que cometeu a proeza de elogiar Costa pelo seu pensamento estratégico para Portugal…quando Costinha ainda não revelou uma única ideia sobre o futuro do País! O Pacheco Pereira deve ter uma linha directa, secreta, com o António Costinha, que lhe permite saber de antemão o que  mais nenhum português sabe! Será que esta nova paixão política de Pacheco Pereira é completamente desinteressada? Não cremos. Pacheco Pereira, embora estrategicamente dê a entender ao telespectador menos cauto que é uma parte pessoalmente desinteressada do processo político, a verdade é que Pacheco tem ambições.

E qual é a ambição de Pacheco? Simples: ser Ministro de um hipotético governo liderado por António Costa. O pensamento de Pacheco Pereira é o seguinte: António Costa vence Passos Coelho nas próximas legislativas; se tiver maioria absoluta, Costa vai querer dar certos sinais de abertura a outras tendências políticas, à esquerda e à direita; assim como Sócrates convidou Freitas do Amaral, António Costa procurará algum dissidente do PSD: ora, Pacheco Pereira, com quem já admitiu ter afinidades de pensamento, será a escolha natural. E se o PS não alcançar maioria absoluta? Esse é o cenário perfeito para Pacheco: somos do entendimento de que Pacheco Pereira tem vindo a preparar o bloco central para o próximo ano. Ora, num Governo de Bloco Central, Pacheco Pereira será uma presença obrigatória, representando o PSD. Ao mesmo tempo, que será um activista da ascensão de Rui Rio à liderança do partido.

Em conclusão, mesmo Pacheco Pereira, comentador isento, tem claras ambições políticas no curto prazo. Pacheco é, por natureza, um político: esteve durante muitos anos em cargos partidários (a nível local, distrital e nacional) ou como deputado à Assembleia da República. Pacheco só esteve mais afastado da política (e da política partidária) quando apostou na realização do seu doutoramento, que não conseguiu concluir. Agora, com o objectivo de doutoramento a não ser uma prioridade, Pacheco Pereira quer voltar à política activa como governante. E António Costinha, depois de tantas juras de amor, poderá concretizar essa ambição do seu colega de “Quadratura”.

Uma última nota: julgamos que António José Teixeira, director da SIC NOTÍCIAS, não fica bem neste processo, ao aceitar que António Costa Sócrates continue como comentador do seu canal. Desprestigia o canal e um dos seus programas com maior audiência. Esperemos que António José Teixeira desfaça o equívoco nos próximos dias, convidando alguém para substituir Costa. Será um precedente gravíssimo se não o fizer!

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