«Sem dificuldades não tem gozo, por isso ‘carrega Portugal’». Foi assim que João Monteiro reagiu no Facebook ao sorteio para o Europeu de ténis de mesa, que Portugal conquistou há uma semana em Lisboa, ao bater na final a favorita Alemanha, campeã há seis edições consecutivas.
A confiança do jogador de 31 anos, o mais veterano da Selecção nacional, quando soube que não só iria defrontar os temíveis alemães logo na fase de grupos, como também a Áustria, quinta no último Mundial, e ainda a Hungria, era já o reflexo da ambição dos maiores talentos do pingue-pongue português. E o triunfo histórico no Campeonato da Europa está longe de ser a última grande obra para lhes ocupar as ideias.
Depois do quinto lugar por equipas nos Jogos Olímpicos de Londres, o foco vira-se para o Rio de Janeiro, em 2016. «O objectivo é ir mais além e ir mais além é lutar pelas medalhas. Não fazemos promessas, mas o sonho existe», assume ao SOL Pedro Miguel, presidente da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa. Que esclarece de seguida: «A Federação não precisa de puxar carroça. Esseobjectivo é imposto pela vontade dos atletas e só temos de lhes dar as condições necessárias».
Marcos Freitas (nascido em 1988, no Funchal), Tiago Apolónia (Lisboa, 1986) e João Monteiro (Guarda, 1983), emigrados há quase uma década nos principais campeonatos do Velho Continente, formam o trio que sustenta a Selecção – no Europeu a equipa completou-se com os ‘suplentes’ Diogo Chen e João Geraldo, sob o comando do técnico José Rufino.
Salários de futebolista
No estrangeiro, treinam três horas de manhã e outras tantas à tarde. Por vezes acrescentam uma sessão de ginásio: levantam pesos em movimentos rápidos para melhorarem a agilidade. Em casa descansam à hora certa, cuidam da alimentação e analisam adversários. São profissionais.
Pedro Miguel adianta que, «nas grandes liga europeias, os melhores jogadores podem ganhar 10 a 15 vezes mais do que em Portugal, que anda entre os mil e os mil e quinhentos euros». Ou seja, os salários nas principais equipas da Europa podem chegar aos 15 mil euros mensais – bem acima do que auferem muitos futebolistas profissionais em Portugal.
Um bom salário, aliado a rendimentos provenientes de patrocinadores, é essencial para Marcos Freitas e João Monteiro treinarem numa academia na Áustria que reúne cerca de 20 dos melhores jogadores europeus e é dirigida por um ex-campeão mundial.
«Todos os que lá estão pagam só para se treinarem. As despesas com a habitação ficam a cargo de cada um. No meu caso, vivo num apartamento alugado», explica ao SOL João Monteiro, que se revelou decisivo na fase de grupos, enquanto Marcos Freitas e Tiago Apolónia apareceram ao mais alto nível na recta final do torneio. Otrio completou-se e fez jus ao lema que adoptou: «Juntos somos mais fortes».
Apesar de treinarem os dois na Áustria, Marcos e João jogam em clubes e ligas diferentes. Oprimeiro, 12.º do ranking mundial e 4.º melhor europeu, representa os franceses do Pontoise Cergy, depois de vários anos na Alemanha;o segundo, 51.º do mundo e 19.º da Europa, alinha nos russos do Verkhnaya Pyshma, após ter passado também pela Alemanha e por Itália. Já Tiago Apolónia, 20.º na hierarquia mundial e 7.º na europeia, treina e vive na cidade germânica de Saarbrucken, onde joga no clube local.
O trio nacional está assim distribuído pelos três campeonatos mais fortes da Europa. «Estão entre os desportistas profissionais mais competentes que Portugal tem», sublinha Pedro Miguel, um histórico da modalidade rendido à dedicação dos jogadores da Selecção.
No domingo, após a vitória sobre a Alemanha (3-1) perante mais de mil espectadores no MEOArena, a equipa sentiu-se honrada com a visita de Passos Coelho ao balneário e com a felicitação via internet de Cristiano Ronaldo, fã assumido da modalidade. Depois, os novos campeões da Europa foram «comer um bife» ao Centro Comercial Vasco da Gama e «dar uma volta pela noite de Lisboa, sem grandes abusos», como sublinha Pedro Miguel.
Marcos Freitas e Tiago Apolónia tinham jogos importantes esta semana pelos seus clubes. João Monteiro ficou por cá até 4.ª-feira para dar voz à ambição colectiva: «A China está um bocado acima de nós, mas num dia bom temos qualidade para nos batermos com qualquer selecção. Nós somos dos melhores jogadores do mundo», conclui.