Se alguém o vai fazer é pouco provável, mas o que todos não se esquecerão é de que, independentemente de não ter sido um ‘concertaço’, Morrissey esteve mesmo entre nós e arrebatou a plateia com alguns momentos memoráveis, como ‘Asleep’, a arrepiar a espinha e a transportar grande parte dos presentes para memórias da adolescência, ‘Hand in Glove’, recebido com ovação estrondosa, ‘Speedway’ e ‘Certain People I Know’. Estranhamente, à excepção de ‘First Of The Gang To Die’ a fechar o encore, deixou alguns dos seus maiores hits a solo de fora, não se ouvindo ‘Suedehead’, ‘Everyday is Like Sunday’ ou ‘You Have Killed Me’. Em vez disso, deu primazia ao alinhamento do recente álbum, ‘World Peace Is None Of Your Bussiness’, e mostrou que o seu carisma não precisa de se apoiar em êxitos do passado para apresentar um concerto eficaz, com várias doses de brilhantismo, mas talvez menos nostálgico do que a maioria esperava.
Essa parte ficou reservada para o início do espectáculo, com Morrissey a recordar em vídeo actuações antigas de Ramones, Brian Eno, Charles Aznavour ou New York Dolls. Quase meia hora depois das projecções apareceu, finalmente, o homem por quem todos esperavam, vestido de branco integral, com os seus trejeitos e presença vocal incomparáveis. E só o facto de ter aparecido pagou a noite. Mesmo que o alinhamento tenha sido desequilibrado, ter cumprimentado várias vezes a plateia com infelizes ‘gracias’ e ter sido escasso em palavras extra canções, foi preciso chegar aquele momento para toda a gente ter a certeza de que Morrissey veio, cantou e, mesmo que em doses mais pequenas do que o esperado, encantou. Ao contrário do que temos testemunhado nos últimos anos, com reuniões de bandas de outros tempos mesmo que agora estejam para lá de decadentes (os Pixies são um bom exemplo deste grupo de artistas), Morrissey continua a ser uma das estrelas mais brilhantes no mundo do showbiz.