"Eu prometi e vim, não ia faltar à promessa. Mas eles [os políticos] faltam", afirmou à agência Lusa Simão Martins, de 31 anos, que integrou o grupo de 43 pessoas da Trofa que se fez à estrada a pé até Fátima na terça-feira e, após uma caminhada de cerca de 200 quilómetros, chegou ao santuário no sábado.
O jovem, que "já tinha vindo de carro, mas a pé é a primeira vez", declarou-se satisfeito por concluir a jornada "sem dores nem bolhas nos pés" e poder estar, hoje e na segunda-feira, na peregrinação internacional de 12 e 13 de Outubro, 97 anos após os acontecimentos na Cova da Iria.
De 't-shirt' com a imagem da Virgem de Fátima na frente e a frase "Envolvidos no amor de Deus pelo mundo" nas costas, temática do maior templo mariano do país para 2013-2014, Simão Martins, empregado fabril, insiste na necessidade de os "políticos cumprirem as promessas" como ele agora cumpriu.
Imediatamente, o jovem recorda o aumento dos impostos e a necessidade de serem reduzidos, ou o estado da saúde e da educação, sectores a reclamarem "melhores condições".
Do mesmo grupo, num discurso mais verde desbotado, Ricardo Faria, funcionário público de 45 anos, desabafou: "Eu acredito em alguns políticos, mas cada vez tenho de acreditar menos".
Porque menos é, também, o que Ricardo Faria vê no salário que leva para casa.
"Todos os meses temos menos dinheiro no fim do mês", disse.
O peregrino também não evita as comparações entre quem, como ele, prometeu a presença em Fátima e os que considera estarem longe de concretizar o que anunciam.
"Eles, como políticos, deviam cumprir as promessas eleitorais que fazem", defendeu quem gostaria ver um futuro pintado de verde esperança.
O seu companheiro de viagem, Luciano Costa, de 49 anos, empregado fabril, enquanto pede apoios para os mais carenciados, não esconde o desejo de que de Fátima saia a luz para "iluminar o espírito dos políticos".
Num outro grupo, de Salvaterra de Magos, onde sobressai o verde florescente dos coletes reflectores, Carla Pintassilgo, de 35 anos, aproveita a deixa para lembrar que os políticos "deveriam penitenciar-se por aquilo que não cumprem e não fazem".
"Eles é que deviam vir, prometem e não cumprem", opina a peregrina que, pelo quarto ano consecutivo, cumpre a promessa no santuário, onde se deslocou a pé.
E quando uma colega do grupo relembra "as reformas pequenas" e os cortes nas pensões, Carla Pintassilgo não hesita em dizer que a 'troika' é "para esquecer mesmo", expressando o desejo de que esta não conheça mais o caminho em direcção a Portugal.
A peregrinação de Outubro ao Santuário de Fátima é presidida pelo arcebispo de Goa e Damão, na Índia, Filipe Néri Ferrão, e começa às 18:30, na Capelinha das Aparições.
As celebrações religiosas terminam na segunda-feira, a partir das 10:00, com a missa, bênção dos doentes e procissão do adeus.
Neste dia assina-se, pela primeira vez, o Dia Nacional do Peregrino.
Lusa/SOL