Em entrevista ao SOL, no âmbito deste MBA pioneiro, tal como está constituído, Jorge Silva Carvalho fala sobre a gestão dos riscos empresariais.
Se os empresários e os investidores apostassem mais na informação prévia quanto ao mercado e aos seus parceiros de negócios, seria mais evitarem serem vítimas de casos como o do BES?
Sem qualquer dúvida e sobretudo para o próprio BES/GES. Se bem que este caso é um pouco mais complexo: é um caso de sistema ou de pilares do sistema. E deverá ser estudado sobretudo como um processo político e de regime, na perspectiva da sua relação com a economia e a finança.
Com os conceitos que preconiza seria possível intervir no caso BES de outra forma?
Uma gestão empresarial com enfoque no conhecimento e na inteligência [entendida como recolha e tratamento de informação] com um bom investimento na segurança da informação e na análise de risco – neste caso, risco não financeiro -, permitiria, se não impedir, atenuar o impacto deste tipo de situações nas empresas e nos cidadãos. Mas, se é certo que muita gente sai prejudicada destes processos, muitos, durante, muito tempo, beneficiaram deste estado de coisas.
Até que ponto a inteligência competitiva, enquanto método permanente de análises estratégicas aos mercados e seus respectivos riscos – poderá ajudar os empresários no seu quotidiano?
Ainda agora a Espanha, e não só, foi surpreendida com o súbito colapso da central de reservas turísticas espanhola Transhotel, com prejuízos de muitas dezenas de milhões de euros.
Não só pode como sem uma perspectiva de gestão baseada na gestão do conhecimento ou de inteligência competitiva, não haverá, normalmente, sucesso. Os desafios que as empresas enfrentam são enormes. O mercado global, com todas as oportunidades de negócio que lhe são inerentes, acarreta riscos muito superiores aos registados em mercados nacionais ou locais. A imprevisibilidade é, verdadeiramente, o único factor garantido. Daí também a importância deste MBA, que foi desde logo entendida por parte dos responsáveis do Coimbra Business School, centro de formação avançada do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC).
Essa realidade aplica-se a todo o tipo de empresas?
Sim. Para melhorar os seus resultados, até mesmo uma pequena ou média empresa terá de ter uma perspectiva de mercado global. Em certas áreas de negócio os clientes podem ser originários de vários países. A existência de sistemas de informação e comunicação como a internet facilita essa aproximação.
O que deve ser feito?
O principal requisito é possuir a adaptabilidade necessária à alteração das circunstâncias ou mudanças externas que forem surgindo. Conhecendo a realidade, em todas as suas matizes, a empresa conseguirá, por exemplo, reduzir controladamente o risco do seu investimento e da sua actividade, preparar melhor a sua entrada num determinado mercado, celebrar acordos com clientes e fornecedores, antecipar a necessidade de alterar o seu plano de negócios ou de abandonar um determinado mercado.
Que mais-valias se podem retirar de uma formação nesta área?
Uma importante mais-valia para o tecido empresarial português é contribuir para mudar o actual paradigma de que ter conhecimento não é tão importante como ter conhecimentos. E também de que iniciativa e rapidez de decisão não têm que significar falta de preparação e ponderação, pois até períodos críticos de mudança podem ser preparados e geridos correctamente.
Nos negócios, além do segredo, também a informação (‘inteligência’) é a alma do negócio?
Não simpatizo com essa expressão, apesar de entendê-la. O conhecimento privilegiado não tem que ser forçosamente secreto – ou guardado. Há momentos em que a sua correcta partilha, no seio de uma organização empresarial ou mesmo externamente, constitui uma força motriz para tal empresa, conferindo-lhe uma vantagem competitiva inigualável.
Como entende essa mesma realidade?
Prefiro colocar o acento tónico sobre a segurança empresarial, mais do que sobre o segredo. A segurança do conhecimento empresarial – ou, dito de outra forma mais em voga, a segurança da informação – é fundamental.
Como é que tal se concretiza?
A inteligência, as informações, ou o conhecimento, assim como a própria segurança, constituem duas faces da mesma moeda. A segurança visa proteger os bens da empresa, nomeadamente os intangíveis como o conhecimento. A correcta actividade de inteligência é fundamental para estruturar uma correcta segurança da informação empresarial. Em ambos os casos, as nossas empresas e empresários ganharão quando perceberem que a gestão do conhecimento e a gestão de segurança empresarial não são um custo, são um investimento e instrumentos fundamentais para a liderança.