As duas intervenções do FMI em Portugal anteriores à troika, em 1978 e 1983, levaram a um rápido equilíbrio, e até a excedentes, das contas externas do país. Mas pouco mudou então na estrutura económica nacional. O essencial dessa viragem no desequilíbrio externo, que nos obrigava a pedir dinheiro emprestado no estrangeiro, resultou da tradicional receita do FMI: a desvalorização da moeda.
Só que um escudo com um câmbio desvalorizado envolvia, também, efeitos negativos a médio prazo. Num primeiro momento, embaratecia e portanto estimulava as exportações, reduzindo o défice da balança comercial. Mas como subia (em escudos) o preço das importações, a médio prazo a inflação retirava às exportações a competitividade ganha com a desvalorização cambial. Lá voltava, porventura agravado, o desequilíbrio externo e a necessidade de mais empréstimos do estrangeiro.
No fim da década de 90 Portugal entrou no grupo fundador da moeda única. A desvalorização do escudo, substituído pelo euro, deixou de ser possível. Numerosos empresários recearam então a perda de competitividade das exportações portuguesas, por já não terem a bengala da desvalorização cambial, a que muitos se haviam habituado. Por isso não investiram no sector exportador, refugiando-se em actividades menos sujeitas à concorrência externa, como a distribuição alimentar.
Esta situação alterou-se alguma coisa com a crise da dívida soberana portuguesa. A austeridade reduziu o consumo das famílias. Em parte por não haver procura no mercado interno, as exportações cresceram de forma notável, mesmo com um euro até há pouco demasiado alto. Ganhámos quotas de mercado na venda de bens e serviços a estrangeiros, o que revela um bem sucedido esforço empresarial de melhoria da competitividade sem desvalorização cambial.
Mas esse esforço tem limites, já visíveis em algum abrandamento do surto exportador. Para manter um elevado ritmo expansionista seria preciso um maior investimento empresarial. E esse não só caiu brutalmente com a crise da dívida soberana portuguesa como tarda a recuperar em grau significativo. O investimento estrangeiro que tem vindo para Portugal também só em limitada medida contribui para alargar a nossa capacidade exportadora de bens e serviços.
Por outro lado, as importações têm subido nos últimos meses. Se fossem só máquinas e equipamentos para aplicar em empreendimentos voltados para a exportação, não haveria problema. Mas são sobretudo bens de consumo – como automóveis. Claro que é normal e até saudável que, depois de um violento aperto provocado pela austeridade da troika, o consumo privado e as importações a ele destinadas voltem a subir. Mas não podemos regressar ao consumismo desenfreado do passado recente. É preciso haver moderação. Cuidado com o défice externo.