Nos últimos quatro anos houve duras críticas à política externa do Brasil. Em que falhou Dilma Rousseff?
O actual Governo conduz a política externa de maneira equivocada, abrindo mão do pragmatismo e perdendo importantes oportunidades comerciais. Adoptou-se nos últimos anos uma postura ideológica, que trai a tradição diplomática do Brasil, prejudica o nosso desenvolvimento interno e o desempenho do país no âmbito externo. No meu Governo, vamos recuperar o prestígio do Itamaraty e a sua centralidade no processo decisório interno, para que o Brasil volte a exercer efectiva liderança e volte a influir de forma positiva no cenário regional e multilateral, deixando de lado a atitude passiva e reflexa que hoje prevalece.
Em termos de política externa, há quem critique Dilma por definir a agenda de acordo com a ideologia. Concorda?
Certamente, isso está claro em relação ao actual Governo. E é justamente por essa ideologia que pauta nossas relações exteriores que, nos últimos anos, negociámos três acordos comerciais: com Israel, Egipto e a Autoridade Palestina. É muito pouco para um país como o Brasil.
A relação bilateral Brasil-Portugal ficou marcada por uma visita curta de Dilma a Lisboa e por uma passagem (de poucas horas) sem aviso. Como é que viu estes episódios?
Portugal é um país irmão, que merece muita atenção e consideração do Brasil. Lamento que tenha havido acções equivocadas do actual Governo na condução da relação dos dois países, além de uma deselegância diplomática de não se anunciar uma visita da Presidente, ainda que de poucas horas, ao país.
Num Mercosul dominado por governos de esquerda, a alternativa será voltar-se para os EUA e Europa?
O Brasil é um país de dimensões continentais, um líder natural da região. A nossa tradição diplomática é manter boas relações com os nossos vizinhos e parceiros. Mas, reafirmo, não nos relacionaremos mais por alinhamentos ideológicos. A nova política comercial deve ser orientada pelo objectivo de conectar a economia brasileira ao mundo. Trata-se de um imperativo da política de desenvolvimento: uma maior integração do país no comércio internacional traria grandes benefícios directos e indirectos.
Marina Silva pode vir a ter uma pasta num Governo de Aécio Neves?
O apoio de Marina Silva honra-me muito e aumenta as minhas responsabilidades. Ele veio de forma absolutamente natural e é baseado em convergências em relação à forma com que enxergamos o país. O seu apoio é programático e não envolve negociação de cargos. Na verdade, esta será a maneira com que pautaremos a nossa relação com os partidos aliados e montaremos o Governo, caso eleito. Teremos um Governo onde os melhores ocuparão os cargos, todos aliados por um projecto de país e não de poder.